IC5 é o futuro que chega com 30 anos de atraso ao Nordeste Transmontano

O itinerário complementar que liga Alijó a Miranda do Douro poderá ajudar a desencravar esta zona de Trás-os-Montes

Quando os irmãos Gilberto e António Brás decidiram investir na terra o que amealharam na Alemanha, nem sonhavam que o IC5 iria passar ali ao lado dos terrenos que foram do pai. Dois anos depois, têm em Pinhal do Norte, Carrazeda de Ansiães, a única bomba de combustível que fica à mão para quem utiliza o IC5, que abriu, na totalidade, na quinta-feira e promete desencravar uma das regiões mais desertificadas de Trás-os-Montes e Alto Douro.

São 131 quilómetros entre o Alto do Pópulo, em Alijó (Vila Real), até Duas Igrejas, em Miranda do Douro (Bragança), junto à fronteira com Espanha. Os restantes 43 quilómetros previstos, do Pópulo a Vila Pouca de Aguiar, não estão calendarizados nem integram a concessão do Douro Interior, que também inclui o IP2 (Macedo de Cavaleiros-Celorico da Beira).

"Do Porto até aqui não há praticamente estações de serviço. Por isso, o IC5 poderá ajudar um bocadinho o negócio", espera Gilberto Gomes. O irmão, António, também acredita que a estrada trará mais gente à região. O problema, observa, é que chega com 30 anos de atraso. "Se têm feito a estrada então, isto não estava tão desertificado", garante. "Agora já passam camiões, mesmo dos transportes internacionais. Antes, não passava aqui ninguém".

O presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, José Luís Correia, avisa que é preciso criar incentivos para agarrar a oportunidade que o IC5 cria. "As estradas tanto levam como trazem. Temos de ter imaginação para atrair investidores", sustenta o autarca. Mas para quem demorava quase uma hora a chegar a Vila Real por uma estrada com tanto alcatrão como curvas, ver o percurso encurtado para metade é quase um milagre. Eduardo Pinto, jornalista da Rádio Ansiães, é um deles. "Este era um concelho "isolado". Agora vai ser "de passagem"". "Quem quiser ir a Espanha, fugindo a portagens e às obras na A4, virá por aqui", argumenta.

Os produtores agrícolas também estão satisfeitos. Numa zona de maçã, azeite e vinho, colocar rapidamente os produtos no litoral é um imperativo. Que o diga José Bernardo, produtor de maçãs, que conta poupar cerca de cinco mil euros só em transporte. António Augusto, da cooperativa local, acredita que será agora mais fácil colocar produtos frescos nos grandes mercados.

É precisamente essa a grande vantagem que Tiago Relhas, empresário, com um projecto de 300 mil euros de ervas aromáticas em Alfândega da Fé, vê no IC5.

"Além de me pôr mais perto do Porto e de Espanha - 90% da minha produção é para exportação -, permite-me alargar o raio de entrega do meu produto em fresco", sublinha. Segundo a presidente da Câmara de Alfândega da Fé, Berta Nunes, outros investidores pensam seguir o mesmo caminho.

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