O atelier na fábrica

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Wall stop for this, a nova exposição de Nuno Sousa Vieira vai estar até 2 de Junho na galeria Appleton Square, em Lisboa Miguel Manso

Wall stop for this, a nova exposição que Nuno Sousa Vieira (n. Leiria, 1971) apresentada na galeria Appleton Square, em Lisboa, não se desloca das habituais preocupações deste artista com a arquitectura e com o diálogo entre espaço expositivo e espaço de trabalho. No seu caso, este diálogo, como o artista contou à 2, é ainda mais intenso por o seu atelier ser na antiga Fábrica de Plásticos Simala, em Leiria.

Desde meados de 2000 que Sousa Vieira usa as instalações daquela fábrica e transformou um lugar de trabalho anónimo, mecanizado e em série em lugar da criação artística. Agora, em vez de operários, a fábrica tem como seu ocupante um artista (muito haveria a dizer sobre esta preferência contemporânea pelos espaços industriais). Uma transformação que, diz Sousa Vieira, não lhe tem dado paradoxos e contradições, mas materiais que tem vindo a desenvolver nas suas esculturas e instalações. Os arquivos e alguns fragmentos da arquitectura modernista das instalações são incorporados nas suas peças e usados como elementos das habituais instalações que o artista faz.

Não se trata de uma simples deslocação de fragmentos, como se se tratassem de pequenas curiosidades descobertas através de uma espécie de arqueologia industrial, mas de integrar esses elementos num contexto artístico - o artista transforma em esculturas as janelas da fábrica, alterando a sua estrutura metálica e usando espelhos em vez de vidros. O uso dos espelhos anula a ideia da janela como simples mediação entre o dentro e o fora, o sujeito e o objecto e os vidros, intactos, são usados nas molduras de pinturas monocromáticas. Através dos resíduos deixados nesses vidros, a visão das superfícies lisas e monocromáticas torna-se um desafio: perder a limpidez cristalina do vidro de museu implica alterar a relação com as imagens, as cores e os materiais da pintura.

A estas alterações junta-se a metamorfose a que o artista sujeitou a galeria: duplicou a entrada, criou um parede extra e fez do espaço expositivo, habitualmente receptor passivo das obras e intervenções dos artistas, uma obra de arte. Nuno Crespo

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