Os neonazis vão entrar no Parlamento para "varrer" os imigrantes da Grécia

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YANNIS BEHRAKIS/REUTERS

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A sede do partido Chrysi Avyi (Aurora Dourada) está num fervilhar de actividade neste fim de tarde quente num bairro de Atenas. Dezenas de pessoas sobem e descem as estreitas escadas em caracol, passando as bandeiras gregas enroladas na entrada, levando folhetos, juntando-se nos cantos para conversar, fumando cigarros na varanda.

Primeira constatação: não estão cá só os jovens musculados vestidos com fatos de treino pretos e T-shirts com símbolos angulosos que fazem lembrar (mas não são) a cruz suástica, nem só os cabeças rapadas que usam blusões pretos e botas da tropa (apesar do calor). Vão e vêm muitas pessoas de meia-idade, ou mais velhas ainda, com ar pobre. Muitas saem com sacos de plástico e folhetos eleitorais.

O Aurora Dourada será dos partidos de extrema-direita mais radicais da Europa com hipótese de entrar num Parlamento. Segundo as sondagens, o Chrysi Avyi, que nas eleições anteriores de 2009 não obteve nem 1%, surge com entre 5% e 7%, ultrapassando confortavelmente o limite de 3% necessário para representação parlamentar na Grécia. Em 2010, o partido elegeu um deputado para a Câmara de Atenas, o seu líder, Nikolaos Michaloliakos, que foi apanhado pelas câmaras a fazer uma saudação nazi.

Apesar disso, o partido nega qualquer conotação com o nazismo. "Como nos podem acusar disso?", indigna-se Eugenia Christou, responsável pela "frente das mulheres" do Aurora Dourada, uma grega de olhos verdes e cabelo louro num tom que só pode ser pintado, que é também candidata pelo distrito de Atenas. "Nós nascemos depois! Não temos nada a ver com isso", diz, driblando assim todas as questões relativas à II Guerra Mundial.

Não é disso que Eugenia quer falar. Ela quer falar do que é, para o Aurora Dourada, o problema "número um" da Grécia. Os imigrantes. O partido já prometeu "varrer" os imigrantes da Grécia. Dados oficiais indicam que há um milhão de imigrantes no país, entre os dez milhões de população total. Eugenia diz que são três milhões. A primeira medida que o partido defenderá quando entrar no Parlamento será "a expulsão de todos", diz Eugenia. Ilegais ou legais? "Os ilegais. Depois, claro, iríamos verificar se os legais são mesmo legais. Se não pagaram para obter os papéis... E vamos descobrir que houve corrupção. Porque como é que alguém do Paquistão ou de um desses países pode ser legal? Tem de ter pago pelos papéis."

Ela aponta todos os males que, em sua opinião, chegam com os imigrantes. "Trouxeram doenças que já estavam extintas na Grécia. Polio, malária, tuberculose. Outras coisas. Como é que o VIH veio parar à Grécia? Foram as prostitutas de África."

O Governo anunciou entretanto campos onde serão colocados os imigrantes ilegais, e abriu mesmo um na segunda-feira antes das eleições, uma medida que foi vista como uma resposta à subida de popularidade da extrema-direita.

Pró-Hitler, anti-Alemanha

Os políticos são uma classe pela qual o Aurora Dourada tem o maior desprezo, sublinhando que os seus membros têm outras profissões e que se candidatam "sem qualquer ambição pessoal". Os cartazes não têm caras. "Apenas uma ideologia", sublinha o seu site.

Qual ideologia? Eugenia, que fala um inglês muito razoável, não quer arriscar. "Um momento, quero dizer a palavra certa", desculpa-se, e levanta-se para ir conferenciar com um grupo de colegas. Quando volta diz: "Somos a favor de um nacionalismo para o povo. Queremos trabalhar para a nação, para os gregos. Somos uma nação de filósofos e heróis, e é muito triste que essa nação deixe de existir." No grupo há quem invoque como inspiração a antiga cidade-estado de Esparta e a disciplina militar dos espartanos.

A posição do Aurora Dourada em relação à Alemanha é, claro, curiosa. Apesar da admiração por Hitler (pela sua acção contra o desemprego, dizem), o grupo entra de cabeça no sentimento antialemão actual na Grécia. "Deve ser-se contra a Alemanha", disse recentemente o líder, Nikolaos Michaloliakos, "porque ainda são os líderes dos banqueiros e da União Europeia".

Elementos do Aurora Dourada tiveram algumas peripécias quando fizeram campanha pelo país. Em algumas localidades de Creta, onde na II Guerra Mundial os nazis arrasaram povoações inteiras, a população protestou de tal modo a vinda da extrema-direita que o partido teve de alterar a rota do autocarro.

Insegurança em Atenas

O estado de insegurança de algumas partes de Atenas contribui grandemente para o sucesso deste agressivo partido. A sua sede está, aliás, numa destas zonas, perto da estação de comboios de Larissa. Andando um pouco ali à volta, o ambiente começa a tornar-se pesado. Há ruas estreitas com prostitutas negras, muito jovens. Pequenos grupos de homens a conferenciar. É melhor voltar para trás.

Não é preciso ser-se de extrema-direita para reconhecer que há um problema de insegurança na capital. Mas os neonazis apresentam-se como a solução e tomam a questão nas próprias mãos. Atacam os imigrantes, espancam-nos, já mataram. Suspeita-se que tenham ligações com a polícia.

Vários membros do Aurora Dourada, incluindo um dos responsáveis pela comunicação, Ilias Kasidaris, são acusados judicialmente de roubo, agressão, ofensas corporais, e porte de arma. Kasidaris e outros cinco elementos começam a ser julgados a 14 de Maio. "Calúnias, rumores", defende-se Eugenia. "Não andamos aí a bater em pessoas. Se alguma senhora idosa precisar de ajuda para ir buscar a sua pensão ao banco, nós acompanhamo-la", explica.

Um outro candidato, Epaminondas Anyfantis, 59 anos, também garantia recentemente: "Nós não fazemos nada, nós protegemos os gregos." Mas logo admitia: "Se, ao protegermos os gregos, um estrangeiro receber uma estalada, ou um pontapé, isso acontece no quadro da protecção dos gregos." "Porque, infelizmente, os gregos chegaram ao ponto de vir pedir protecção ao Aurora Dourada."

O partido dá segurança e outras coisas. "Fazemos recolha de roupa, comida e até brinquedos para quem não tem", diz Eugenia. Numa altura em que muitos gregos não têm muita coisa, esta é uma ferramenta de atracção poderosa. Os sacos de plástico nas mãos de muitas das pessoas curvadas com ar triste que saem do edifício parecem confirmá-lo.

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