Sarkozy vai processar site que lançou suspeitas sobre ajuda de Khadafi nas últimas eleições

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Sarkozy acusa a Mediapart de estar ao serviço da esquerda PASCAL PAVANI/AFP

François Hollande caiu um ponto, mas continua a surgir nas sondagens como o favorito para as presidenciais de domingo

A segunda volta das presidenciais francesas aproxima-se, o grande frente-a-frente, num debate televisivo, entre Nicolas Sarkozy e o François Hollande é já amanhã. Eo dia de ontem voltou a estar ensombrado por um documento dos serviços secretos líbios divulgado pelo site de informação francês Mediapart, que parece provar que o regime de Muammar Khadafi terá decidido, em 2006, financiar em 50 milhões de euros a campanha de Nicolas Sarkozy para as presidenciais do ano seguinte. Mas o Presidente francês - que a sondagem Ipsos de ontem mantém em desvantagem face ao socialista François Hollande - anunciou logo de manhã, em declarações à televisão France 2, que vai processar o Mediapart.

"Esse documento é uma falsificação grosseira", disse então, adiantando que a queixa será entregue ainda "antes do fim da campanha", ou seja, até ao final desta semana, já que a segunda volta das eleições está marcada para o próximo domingo. E acrescentou: "As duas pessoas, na Líbia, que supostamente terão enviado e recebido [o documento], desmentiram-no."

Sarkozy referia-se a Moussa Koussa, ex-chefe dos serviços secretos líbios, que terá assinado o documento, e a Bachir Saleh, ex-director de gabinete de Muammar Khadafi, o suposto destinatário. O primeiro já disse à AFP que "todas essas histórias são falsas". E o advogado do segundo fez saber, ainda no domingo, que Saleh nuca recebeu aquela carta nem participou em qualquer reunião em que tenha sido decidido financiar a campanha de Sarkozy.

"A campanha não justifica tudo", vincou o Presidente, falando ainda à televisão pública francesa. "Existe uma moral e os que mentem devem ser condenados pela justiça." Ainda no domingo Sarkozy falou numa "infâmia" e acusou o Mediapart de estar a interferir na campanha. "É uma oficina ao serviço da esquerda", disse.

Na sondagem Ipsos de ontem para a France Télévisions, a Radio France e o Le Monde, Sarkozy subiu um ponto nas intenções de voto, 47%. Mas não deixa por isso de estar em desvantagem face ao socialista François Hollande, com 53% das intenções de voto. 14% do eleitorado de Marine Le Pen, derrotada na primeira volta, tenciona votar em Hollande e 40% em Sarkozy. A média de todas as sondagens feitas na última semana deixa o candidato socialista à frente, com 54% das intenções de voto.

François Hollande frisou que tem de ser feita justiça sobre o caso Mediapart: "Se se tratar de uma farsa, o site deverá ser condenado", caso contrário, "haverá explicações a dar".

O primeiro-ministro francês, François Fillon, já disse duvidar da autenticidade do documento publicado no sábado pelo Mediapart, que diz tê-lo obtido através de "antigos altos responsáveis líbios, hoje na clandestinidade".

Esta não é a primeira vez que o Presidente francês é associado ao ex-lider líbio - já o tinha sido por intermédio de Ziad Takieddin, o homem de negócios que, a partir de 2005, terá sido o elo de ligação à Líbia de Claude Guéant, actual ministro do Interior, e as suspeitas de financiamento já tinham sido levantadas durante esta campanha. Sarkozy viria a classificá-las de "grotescas".

Voltou a sê-lo ontem. A revista francesa Les Inrockuptibles garantiu à AFP que, em 2007, houve um "arranjo secreto" entre o Presidente francês e Khadafi para a Líbia libertar um grupo de enfermeiras búlgaras, acusadas de terem infectado deliberadamente crianças com o vírus da sida, em troca de um acordo nuclear com Paris. "O destino das enfermeiras búlgaras foi jogado em mísseis franceses e uma central nuclear", afirmou a revista francesa, que garante basear-se em documentos oficiais.

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