Taveira por Taveira

As raízes populares e os amigos intelectuais

Quando lhe perguntamos o que representaram as Amoreiras, Tomás Taveira começa a falar como se, finalmente, tivesse uma oportunidade para contar a sua versão da história. "Ninguém sabe a história da minha vida. O que as pessoas sabem de mim é a história das cassetes [o escândalo sexual dos anos 1980] e as Amoreiras. A vida de uma pessoa é mais do que meia dúzia de episódios."

Sublinha as raízes populares. Como quando lhe falaram pela primeira vez de desenho a carvão: "Eu, operário, filho de operário, o único carvão que conhecia era o da carvoaria." Fala do seu "lado rufia", da "cultura bairrista" que adquiriu "entre a Picheleira e Alcântara", do trabalho como serralheiro mecânico.

E depois conta como entrou nos círculos intelectuais, como frequentava a Brasileira e convivia com poetas e realizadores, como foi mandado para a tropa "porque era pobre" e como, em Santarém, conheceu Herberto Helder e Fernando Assis Pacheco, como devorava a revista Cavaleiro Andante e admirava Flash Gordon - e mais tarde Andy Warhol e os Velvet Underground.

Diz que as pessoas nunca estudaram a sua obra, mas garante que nunca se sente vítima de injustiça. "Nunca tive um sentido dramático da vida. Um indivíduo que nasce numa casa sem electricidade nem água, que tinha uma pia na cozinha, e que chega onde eu cheguei, pode ter um sentido dramático da vida? Sou o indivíduo com mais sorte do mundo." A.P.C.

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