Aeroporto complementar à Portela não pode custar mais de 50 milhões

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Solução Portela+1 já é falada desde os anos 1960 e foi agora recuperada face à saturação da Portela, que deverá atingir os limites em 2017 daniel rocha

Governo já definiu tecto máximo de investimento na solução Portela+1, na sequência das negociações com potenciais interessados na privatização da ANA. Opção pelo Montijo vai ganhando cada vez mais força

A solução Portela+1, que o Governo recuperou após a suspensão do novo aeroporto de Lisboa, não poderá custar mais de 50 milhões de euros. É este o investimento máximo que os potenciais interessados na ANA estão dispostos a fazer numa infra-estrutura complementar à que existe actualmente na capital, avançou ao PÚBLICO o secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro.

"O valor a investir na privatização da ANA já é muito elevado", estimando-se que ronde os dois mil milhões de euros, afirmou o governante, acrescentando que "qualquer uma das alternativas que se escolha [para construir o +1 da Portela] pressupõe um investimento inferior a 50 milhões". Este valor resulta das conversas que o Governo tem mantido com os interessados na gestora aeroportuária estatal, que ficarão responsáveis por erguer este projecto na sequência da venda da empresa, calendarizada ainda para este ano.

Em cima da mesa estão cinco alternativas: Montijo, Sintra, Alverca, Beja ou Monte Real. As atenções têm estado voltadas para as três primeiras, já que as restantes ficam muito longe de Lisboa, a 180 e 160 km, respectivamente, o que aumentaria as despesas com acessibilidades. A análise está a cargo de um grupo de trabalho, criado a 20 de Janeiro, com o objectivo de avaliar, num prazo de 90 dias, a melhor localização. Esse prazo está prestes a terminar, mas o executivo já veio esclarecer que as conclusões só serão conhecidas em Maio. De entre as três alternativas mais prováveis, a base aérea do Montijo parece reunir as condições mais favoráveis, porque tem duas pistas (uma das quais com 2448 metros) e área suficiente para implantar uma infra-estrutura aeroportuária. Além disso, a sua orientação não choca com a da Portela, permitindo a operação em simultâneo, e está próximo de Lisboa.

O problema é que o valor apontado pelo secretário de Estado dos Transportes fica muito abaixo dos custos estimados com a adaptação desta base a um aeroporto civil. As previsões da NAER apontam para que seja necessário um investimento de 156,8 milhões de euros para dotar a infra-estrutura de capacidade para seis movimentos por hora. Só o terminal de passageiros custaria 55,1 milhões.

easyJet fica na Portela

O facto de o primeiro-ministro ter visitado recentemente a base do Montijo foi visto como um sinal de que poderá ser esta a opção para o aeroporto complementar à Portela, que deverá esgotar a capacidade já em 2017, ao atingir 18 milhões de passageiros. Nessa ocasião, Passos Coelho afirmou que quer evitar o novo aeroporto em Lisboa "na próxima década", descartando, uma vez mais, a possibilidade de avançar com o projecto em Alcochete - a localização que tinha sido escolhida durante o Governo de Sócrates.

Tal como o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, há quem defenda que esta opção deveria continuar em cima da mesa. Em entrevista recente ao PÚBLICO, o ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) afirmou que "deveria haver uma construção gradual, em Alcochete", que, numa primeira fase, servisse apenas para escoar o tráfego excedente da Portela. "Seria a oportunidade para começar a fasear o investimento no novo aeroporto, que terá mesmo de ser construído no futuro", sublinhou.

O Governo tem descartado esta hipótese, dando como argumento o memorando de entendimento assinado com a troika, que recomenda que o aeroporto complementar aproveite uma infra-estrutura já existente. Quanto às outras duas opções que mais consenso reúnem (Sintra e Alverca), há factores que as fazem perder a corrida para o Montijo.

A base de Sintra tem uma pista pequena (1800 metros), está dentro da área de controlo de Lisboa e demasiado próxima de uma serra. E Alverca não tem tanto espaço físico e possui uma orientação muito semelhante à da Portela, o que impede a operação em simultâneo.

Mas a questão não parece residir apenas na escolha da localização. Até aqui, o aeroporto complementar tem sido apontado como um potencial albergue das companhias low cost que operam em Lisboa, nomeadamente da easyJet, que inaugurou a base área na capital na semana passada. No entanto, a empresa não está interessada em sair do aeroporto principal, como deixou claro a sua presidente, numa entrevista ao PÚBLICO.

"Ficar longe do centro, do aeroporto principal, não se adequa à nossa estratégia", afirmou Carolyn McCall, acrescentando que uma eventual transferência do terminal 2 para uma base alternativa "mudaria por completo" a forma como encaram o investimento em Portugal. Face à resistência da easyJet, o +1 da Portela poderá ser a oportunidade para a Ryanair entrar em Lisboa, satisfazendo um objectivo antigo desta companhia de baixo custo.

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