A solução é tirar o poder aos militares

Sem que os militares guineenses percam o poder, tudo continuará como hoje. Ou seja, incontrolável

Num depoimento publicado na edição de hoje, a propósito do golpe em Bissau, diz-se que na Guiné "não há esta coisa de a situação acalmar. Está tudo bem e, no momento seguinte, torturam, mutilam e matam". É como se a cada ténue miragem de bonança se sucedesse sempre uma tempestade, e não o contrário. A 23 de Junho de 1998, a manchete do PÚBLICO era "Rebeldes controlam Guiné". Foi o célebre golpe de Ansumane Mané contra o então Presidente Nino Vieira. Nino resistiu onze meses, até que foi deposto. Desde essa data multiplicaram-se as mortes entre os protagonistas desta interminável tragédia: Ansumane Mané, assassinado em circunstâncias nunca esclarecidas, em 2000; Tagmé Na Waié, chefe das Forças Armadas, assassinado em 2009; Nino Vieira, assassinado em 2009; e Malam Bacai Sanhá, em quem a comunidade internacional depositava esperanças, acabou por morrer em Paris, em Janeiro deste ano, devido a doença, ainda no cargo de Presidente. Isto num cenário onde a corrupção, o nepotismo e o tráfico de drogas vão minando qualquer esperança de normalidade (a tal normalidade a que a Guiné dificilmente voltará porque nunca ali existiu). O cenário actual, com os golpistas a quererem impor um governo pelas armas, colocando na Presidência alguém que nesse cargo já mostrou sobeja incompetência, ou seja, Kumba Ialá (presidente entre 2000 e 2003 até ser deposto por um golpe militar), tem pela frente a oposição da comunidade africana e da comunidade internacional. Há uma força militar portuguesa a caminho, a pretexto preventivo, e há posições firmes da CPLP e da CEDEAO. Mas o que sucederá, quando abrandarem as tensões? A guerra civil é o pior dos cenários, talvez evitável. Mas não haverá nenhum cenário satisfatório enquanto o poder real for o dos militares. Sem isso, tudo continuará como hoje: incontrolável.

A rápida erosão do Portugal católico

Portugal é um país cada vez menos católico e não se deve encarar o processo de evolução que em 12 anos reduziu o número de crentes de 86,9% para 79,5% da população como um simples fenómeno de natureza confessional: o que estes números indicam é uma transformação profunda da sociedade, com impactes na sua dimensão cultural e até na identidade do país. Ainda que a percentagem de ateus, agnósticos e de indiferentes tenha aumentado ligeiramente, o espelho da redução do número de católicos é o crescimento de crentes de outras religiões. Ou seja, podemos estar perante uma dinâmica social e cultural nova e mais aberta a doutrinas e experiências religiosas que põem em causa a tradição. Face a estes números, o desafio da Igreja é enorme. A perda acentuada de crentes acabará por pôr em causa a sua influência nas estruturas do Estado ou em outras esferas da vida pública.

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