Torne-se perito

Especialistas em obstetrícia lembram que maternidades isoladas são modelo do passado

Com o anunciado encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), se avançar a fusão das duas unidades de Coimbra só restará no mapa do país uma maternidade (a de Júlio Dinis, no Porto) fisicamente isolada do centro hospitalar em que está inserida. Em Coimbra o processo de transferência das duas maternidades (Bissaya Barreto e Daniel de Matos) para o Centro Hospitalar Universitário (CHUC) já está em estudo. As medidas de reorganização da oferta destes serviços merecem a aprovação dos especialistas.

A polémica à volta do fecho da MAC trouxe relatos cheios de emoção sobre a importância do "lugar onde se nasce". Mas os especialistas insistem na defesa da importância da integração destas unidades em hospitais centrais por questões de segurança, eficácia e gestão de recursos. Lisa Vicente, responsável pela divisão de saúde reprodutiva da Direcção-Geral da Saúde, recorda que "as maternidades como um centro isolado eram o modelo no século passado". Admitindo vantagens na integração destes serviços nos centros hospitalares, considera, no entanto, que "o que produziu aqui [na MAC] uma enorme instabilidade foi a questão incompreensível do encerramento quase sem planos".

Já Luís Graça, presidente da Sociedade de Portuguesa de Obstetrícia e director do serviço no Hospital de Santa Maria (em Lisboa), concorda sem reservas com o encerramento anunciado da MAC. "Uma unidade monotemática é um conceito ultrapassado", diz. Apesar de compreender o "peso simbólico" que a MAC representa, defende que "já não tem sustentabilidade em termos económicos e técnicos". "Uma mulher com uma perfuração da bexiga precisa de um cirurgião, uma mulher com uma embolia pulmonar tem de ser transferida para um hospital", exemplifica. No caso de Lisboa, Luís Graça nota que a abertura do Hospital de Loures, que tem um serviço de obstetrícia com capacidade para 2500 partos por ano, provocou muitas "redundâncias" e agora é preciso "solucionar rapidamente" o problema. E denuncia: "Toda a gente quer ficar com o filet mignon. A obstetrícia dá sempre dinheiro".

Ontem, à Lusa, o ex-ministro da Saúde Correia de Campos voltou a defender que "uma maternidade deve estar cada vez mais integrada num hospital geral", mas optou por concordar com a continuidade da MAC "nem que seja como forma de pressão" para que seja construído o futuro Hospital Oriental de Lisboa.

A concretizar-se o fecho da MAC e a fusão das maternidades de Coimbra no CHUC, o Porto fica com a única maternidade fisicamente isolada do centro hospitalar em que está inserida. "O ideal seria que estivesse fisicamente integrada para uma melhor gestão das eventuais complicações, mas tentámos diluir os riscos da separação [500 metros] com a colocação de um internista e cirurgiões na Maternidade Júlio Dinis", afirma Sollari Allegro, presidente da administração do CHP. Mas, em quatro anos de experiência, só houve necessidade de transferir uma mulher.

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