Miguel Gomes lamenta vitória do digital no cinema

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Miguel Gomes trabalhou em película nos seus últimos filmes AFP

A palavra é escolhida com cuidado, já que é de afectos que fala quando se refere à sua relação com o cinema que é feito assim. “Portugal não é o único a abandonar a película – todos os países o estão a fazer”, diz, dando o exemplo da Alemanha, que há cerca de mês e meio decidiu o encerramento de dois dos seus três laboratórios, o de Hamburgo e o de Munique.

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A palavra é escolhida com cuidado, já que é de afectos que fala quando se refere à sua relação com o cinema que é feito assim. “Portugal não é o único a abandonar a película – todos os países o estão a fazer”, diz, dando o exemplo da Alemanha, que há cerca de mês e meio decidiu o encerramento de dois dos seus três laboratórios, o de Hamburgo e o de Munique.

O cineasta reconhece que "o digital é inevitável", mas gosta do "grão" da película e lamenta o seu fim anunciado, que "se deve a razões puramente económicas e não técnicas ou artísticas".

Para Miguel Gomes, a proximidade a esta tecnologia tem uma explicação pessoal - “a sensação de ver um filme em película está para mim intimamente ligada à simples ideia de ver um filme” – e outra técnica: “O digital em termos de qualidade ainda não tem nada a ver com a película, em que sentimos o grão, a matéria. Costumo comparar o que procuro numa imagem ao que procuro numa cerveja: preciso de grão, como preciso de gás. E o digital, que está a agora a ser trabalhado para ficar mais próximo do efeito da película, é ainda muito clínico, quase oftalmológico. Podemos ver nele todos os poros da pele da cara de uma actriz, mas não tem grão, não tem matéria.” Com a nova câmara que chegou ao mercado, apesar de tudo, o digital tornou-se melhor.

“Quando decidi fazer 'Tabu' em película, sabia que seria, provavelmente, a minha última oportunidade de o fazer”, continuou o realizador.

O filme anterior de Miguel Gomes, “Aquele Querido Mês de Agosto”, foi feito em película nos laboratórios da Tobis.