Descoberta do fórum romano de Beja revela que ali já existiram várias cidades

Ao fim de mais de 400 anos de tentativas para localizar o fórum romano de Beja, a sua descoberta é um facto que vai obrigar a reconfigurar a sua História passada

O forúm romano de Beja, que vários pesquisadores procuraram ao longo de mais de 400 anos, foi descoberto no local onde tudo fazia prever que se encontraria - num quarteirão paralelo à Praça da República e muito próximo dos paços do concelho da capital baixo-alentejana - pela equipa de arqueólogos liderada por Maria Conceição Lopes, do Centro de Estudos Arquelógicos das Universidades de Coimbra e do Porto. É mais uma prova de que Beja já teve várias cidades, disseram ontem investigadores reunidos para discutir os achados.

A importância do descoberta suscitou o interesse de um núcleo de historiadores portugueses, espanhóis e até um francês, que debateram em Beja, durante os últimos dois dias, a importância dos achados arqueológicos que Conceição Lopes tem trazido à luz do dia desde que iniciou as escavações em 1997. O colóquio tinha como tema Beja - imagens da cidade antiga.

A importância de Beja durante o período romano está a ser confirmada no levantamento das edificações soterradas desde o século VII a.C., na parte ocidental do actual aglomerado urbano. Parece ser o local onde ao longo do tempo "mais intensamente houve modificações", salientou Conceição Lopes, deixando claro que a área onde vão continuar a decorrer escavações foi a zona "mais procurada" da cidade ao longo da sua História desde a Idade do Ferro.

Esta é a conclusão que a investigadora subtrai do espaço escavado, cerca de quatro hectares no alto do planalto, com lugar apenas para os edifícios públicos e o funcionamento político-administrativo e religioso da cidade.

As escavações vieram demonstrar a complexidade do perfil estatigráfico do terreno. Ao longo do tempo, foi feito no local um conjunto de remodelações, de reciclagem de materiais e de reutilizações comprovando que não houve estruturas destruídas - apenas "ganharam outras funções" refere a arqueóloga, frisando que, "a par de estruturas romanas, há um edifício muçulmano e ainda outro do século XVI".

Junto do templo romano, estrutura com maior dimensão que o seu congénere de Évora, encontra-se um edifício pré-romano, da Idade do Ferro, separados por um metro e conservados à mesma altura. Conceição Lopes presume que os dois edifícios "funcionaram ao mesmo tempo" realçando um pormenor curioso: é de admitir que se está "perante testemunhos de comunidades miscigenadas, que conviveram com base numa certa colectivização da diferença" e que, mesmo assim, mantinham as suas tradições em liberdade.

As sucessivas descobertas arqueológicas já obrigaram a equipa de investigadores a realizar as suas escavações até 7,5 metros de profundidade e confirmaram como os alicerces do templo romano serviram de suporte a um conjunto de edifícios de habitação construídos no século XX.

É o que a arqueóloga já definiu como o testemunho mais clarividente "das cidades que Beja já teve ao longo da sua História" em momentos diferentes, desde o século VII a.C. até aos anos 40 do século passado.

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