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Mais dois antigos espiões na mira do Ministério Público

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Ministério Público não fala sobre o caso por estar em segredo de justiça HELDER OLINO

MP investiga dois antigos membros das secretas que trabalham na Ongoing. Um deles por eventual utilização abusiva de dinheiro público

O Ministério Público (MP) está a investigar mais dois membros dos serviços secretos que foram contratados pela Ongoing no ano passado. Para além de Jorge Silva Carvalho, ex-director dos Serviços de Informação Estratégica de Defesa (SIED), cujo caso o PÚBLICO tem vindo a noticiar, o MP tem na mira João Alfaro, também ele ex-membro do SIED, e Paulo Félix, ex-Serviços de Informações de Segurança (SIS). A PJ apreendeu os computadores destes dois últimos durante buscas policiais realizadas à Ongoing nos últimos dois meses. Para além disso, o SIS está a analisar alguns procedimentos, por eventual utilização abusiva de dinheiros públicos, associados a Paulo Félix, quando este tinha responsabilidades na área da informática.

O PÚBLICO apurou junto de fontes ligadas ao universo dos serviços de inteligência que as investigações do SIS a Paulo Félix estão ainda a decorrer e começaram já depois de o ex-espião ter entrado para a Ongoing, em Abril de 2011, onde, actualmente, desempenha as funções de director de auditoria de sistemas de informação.

As inspecções foram desencadeadas depois de o gabinete de auditoria do SIS ter iniciado uma avaliação às contas dos serviços, no contexto das restrições orçamentais, que concluiu, entre outras coisas, existir um problema de sobrefacturação de cerca de 300 mil euros associado a movimentos realizados por Paulo Félix. "Não comento factos que desconheço", respondeu ao PÚBLICO Paulo Félix, quando inquirido sobre as averiguações de que está, alegadamente, a ser alvo pelo SIS. Já sobre as buscas policiais que levaram à apreensão do seu computador, optou por um "não comento". "O processo está em investigação e em segredo de justiça, pelo que nada pode ser informado", disse ao PÚBLICO a porta-voz do Ministério Público. Por seu turno, fonte oficial do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) declarou que "a informação não tem fundamento".

Craque da Internet

Em Outubro, em entrevista ao PÚBLICO, o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, justificou a contratação de Paulo Félix, como director de auditoria de sistemas de informação da Ongoing, por se tratar de um especialista em informática e "um dos grandes craques da Internet a nível mundial". Vasconcellos, Rafael Mora, vice-presidente da Ongoing, Jorge Silva Carvalho e os dois ex-agentes João Alfaro e Paulo Félix estão conectados com a loja maçónica Mozart, que ganhou mediatismo por envolver gestores, polícias, espiões, ex-espiões, advogados, jornalistas e políticos no activo, como o líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro.

O semanário Expressorevelou no passado dia 7 que, no âmbito das suas competências no SIS, Paulo Félix dispunha de um orçamento para acções de Open Source Intelligence, que são técnicas encobertas de difusão de informações e que, pela sua natureza, não permitem detectar a origem (o autor). Este esquema possibilita que, por via Internet, possam existir movimentos de desestabilização das empresas cotadas, nomeadamente, para mexer com as acções, ou promover ou descredibilizar gestores, e escapar às malhas dos supervisores, sejam eles policiais ou de mercado de capitais.

Um dos elementos com quem o PÚBLICO falou explicou que, quer os orçamentos do SIS, quer o do SIED, são fiscalizados pelo Tribunal de Contas, que faz uma avaliação rigorosa da aplicação das verbas. Em todo caso, salientou que as verbas que se gastam para pagar a fontes dos espiões estão incluídas no bolo geral, não sendo, por isso, possível detalhá-las.

O percurso de Paulo Félix tem sido objecto de controvérsia. Antes de ser recrutado para Ongoing, pela mão de Silva Carvalho, o ex-espião exerceu as funções, a partir de 2006, de director de Área da Presidência de Conselho de Ministros, no tempo de José Sócrates, o que consta do seu curriculum, que refere ainda uma passagem pela PJ e pela Interpol. Já a ligação ao SIS não aparece. Félix chegou a dar treino, nas matérias em que é especialista, a outros agentes do SIS.

O Expresso, a 7/1/2012, publicou uma notícia com o título Técnicas do SIS usadas a favor da Ongoing, onde afirmou que Félix "criou centenas de contas de Twitter com nomes falsos para espalhar boatos na Net". Em causa estão factos ocorridos em Julho de 2011, quando os presidentes da PT (onde a Ongoing tem 10,5% do capital), Zeinal Bava, e da Impresa (onde a Ongoing tem 23%), Francisco Balsemão, foram atacados por mensagens (frases curtas de 140 caracteres) veiculadas através de cerca de 300 contas de Twitter sedeadas nos EUA [ler caixa em anexo].

Silva Carvalho demitiu-se há uma semana do grupo onde desempenhava as funções de CEO da Ongoing Services, decisão que tomou no mesmo dia em que a revista Visãotornou público que o ex-director do SIED (até Novembro de 2010) "nunca deixou de ser um agente de informações, nem quando se tornou administrador da Ongoing". Nas buscas que fez à sua residência e à Ongoing, a PJ apreendeu computadores e, segundo a Visão, um telemóvel com "várias centenas de ficheiros com informação sobre personalidades da vida política, económica e social do país."

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