Praxe: o desejo de obedecer hoje para comandar amanhã

"Praxis", curta de Bruno Moraes Cabral, tenta fazer um retrato "quase sociológico" das praxes nas universidades portuguesas. Uma prática que se generalizou, mas que não é consensual

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Depois de poucos dias de filmagem, já nada surpreendia Bruno Moraes Cabral. O realizador da curta-metragem "Praxis" andou por 19 faculdades, nas universidades de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Évora e Beja, durante três meses. Em todo o lado as mesmas brincadeiras, as mesmas palavras de ordem, os mesmos jogos. Em todo o lado o mesmo sentimento latente: “Independentemente de tudo o que me aconteceu, de bom e de mal, no próximo ano vai ser a minha vez”.

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Depois de poucos dias de filmagem, já nada surpreendia Bruno Moraes Cabral. O realizador da curta-metragem "Praxis" andou por 19 faculdades, nas universidades de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Évora e Beja, durante três meses. Em todo o lado as mesmas brincadeiras, as mesmas palavras de ordem, os mesmos jogos. Em todo o lado o mesmo sentimento latente: “Independentemente de tudo o que me aconteceu, de bom e de mal, no próximo ano vai ser a minha vez”.

A interpretação de Bruno Moraes Cabral parte de uma observação “quase sociológica”, sem conceitos previamente definidos. O que o jovem realizador de 32 anos quis mostrar não foi a praxe camuflada, foi aquilo que “os estudantes fazem no dia-a-dia nas praxes e acham que faz parte [do ritual normal]”.

Os extremos não fazem parte de "Praxis", vencedor do prémio de melhor curta-metragem no Doc Lisboa em 2011. Sempre que chegava a uma faculdade, Bruno Cabral dirigia-se aos “doutores” e pedia autorização para filmar. O pedido foi quase sempre aceite - "Houve uma ou outra vez em que pediram para voltar noutro dia, em Évora só pudemos filmar uma vez e a noite de Coimbra foi mesmo barrada, disseram-me que nem imaginava o que podia acontecer". 

Foto
Bruno filmou nas universidades de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Évora e Beja DR

Semelhanças entre faculdades

A palavra praxe surge pela primeira vez em 1863 e começa por ser uma prática na Universidade de Coimbra; hoje, é um ritual “que se generalizou em todas as universidades”. Durante as filmagens, uma das coisas que mais surpreendeu Bruno e Carlos Isaac, da direcção de fotografia, foi a semelhança dos rituais entre diferentes universidades: "O tipo de cerimónia, jogos e palavreado era muito parecido entre faculdades, muito mais do que o que estava à espera."  

Para Bruno, havia um grande desafio: fazer com que as pessoas que estão mais envolvidas nas praxes conseguissem ver-se com algum distanciamento através no filme. E levar à reflexão: "Por que é que alguns [alunos] sentem mesmo necessidade deste tipo de processos para se integrarem nas universidade? É claro que há muitas formas de integração nas universidades, a praxe é apenas uma delas".

Na Escola Superior de Teatro e Cinema que Bruno Cabral frequentou não existia praxe. Mas, e se tivesse existido? "Se fosse nesta base de os mais velhos me obrigarem a fazer coisas que não acho que sejam muito interessantes para desenvolver um espírito crítico e de reflexão, provavelmente até me oporia."