Uma lei eleitoral desenhada à medida do Fidesz

A lei eleitoral húngara foi mudada pelo Governo conservador do Fidesz - e precisava de facto de ser mudada, os círculos já não correspondiam à realidade populacional. Só que há suspeitas - certezas, dizem os analistas que estudaram mapas e números - de que foi feita para beneficiar o Fidesz em futuras eleições.

"O mapa dos distritos eleitorais pode ser considerado antidemocrático. As suspeitas de gerrymandering são elevadas", diz Róbert Laszló, especialista em sistemas eleitorais do think tank Political Capital, em Budapeste. Este curioso termo, de origem anglo-saxónica, refere-se à manipulação das fronteiras dos círculos eleitorais para obter vantagens para um dos lados em disputa - e é disso que é acusado o Fidesz de Viktor Orbán.

"Parece fácil identificar traços de manipulação política: a população dos distritos eleitorais com tendências de esquerda [nas eleições dos últimos anos] excede em 6000 pessoas, em média, a dos distritos com eleitores que tradicionalmente optam pela direita. Portanto, os votos nestes distritos têm maior peso, já que um deputado num distrito de direita precisa de menos votos para ser eleito", lê-se numa análise da nova lei eleitoral feita pelo instituto Political Capital.

Este é um sistema eleitoral misto - em que se elegem deputados em círculos uninominais e alguns em listas partidárias. A particularidade nesta lei é que os votos "em excesso", para além dos necessários para eleger o deputado no círculo uninominal, passam para a lista nacional do seu partido. E o mesmo acontece com todos os votos nos candidatos que não ganharam em cada círculo, em relação às listas nacionais dos seus partidos.

"A importância deste mecanismo de "compensação do vencedor" é mínima se a popularidade dos partidos for equilibrada, mas se um partido for significativamente mais popular (como em 2010), estes elementos de distorção não são necessários para o partido predominante adquirir uma maioria de dois terços", lê-se ainda na análise do Political Capital.

Alan Renwick, do Departamento de Politica e Relações Internacionais da Universidade de Reading (Reino Unido) estima que a distorção criada pelo novo sistema eleitoral amplificaria ainda mais o efeito que permitiu ao Fidesz ter 68% dos assentos parlamentares em 2010, conquistando 52,7% dos votos: teria 76% dos deputados. C.B., em Busdapeste

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