Livraria Camões no Rio de Janeiro vai encerrar este mês envolta em polémica

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Livraria Camões, que promove no Brasil a literatura portuguesa, vai fechar portas Pedro Cunha/arquivo

“[O encerramento] será por este mês”, confirmou à Lusa José Estrela, acrescentando que recebeu a informação do fecho da livraria, existente há 40 anos, através de uma carta da Imprensa Nacional –Casa da Moeda.

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“[O encerramento] será por este mês”, confirmou à Lusa José Estrela, acrescentando que recebeu a informação do fecho da livraria, existente há 40 anos, através de uma carta da Imprensa Nacional –Casa da Moeda.

O secretário-geral do PS, António José Seguro, já demonstrou a sua “perplexidade” em relação ao encerramento da livraria, depois de o PS se ter insurgido contra esta medida na Assembleia da República. A posição dos socialistas foi transmitida pelo deputado Jorge Lacão, que nos governos de José Sócrates assumiu as funções de secretário de Estado da Presidência e de ministro dos Assuntos Parlamentares.

“Fico preocupado com a decisão [do Governo] de encerrar a Livraria Camões, numa lógica de cariz que não pode ter outra justificação que não seja estritamente financeira, quando estou absolutamente convencido que a Imprensa Nacional Casa da Moeda tem condições de gestão financeira equilibrada para dar esse contributo à promoção da cultura portuguesa, particularmente no Brasil”, declarou Jorge Lacão.

Nas declarações que fez aos jornalistas, tendo ao seu lado a ex-ministra das Cultura Gabriela Canavilhas e a deputada Inês Medeiros, Jorge Lacão começou por referir que, durante o período em que exerceu funções governativas, teve responsabilidades directas na Livraria Camões.

“Essa questão do encerramento foi-me colocada com base num critério estritamente economicista, mas acontece que a Imprensa Nacional Casa da Moeda revelou no período governamental anterior uma gestão equilibrada, estando assim em perfeitas condições financeiras de poder contribuir para um esforço de promoção da língua e da cultura portuguesa no exterior, particularmente no Brasil”, sustentou.

Segundo o deputado do PS, enquanto membro do Governo, opôs-se por isso “de forma total à possibilidade de a Livraria Camões encerrar no Brasil”.

“Por ocasião de uma visita ao Rio de Janeiro fui pessoalmente à Livraria Camões mostrar o empenhamento do Governo da altura na manutenção da Livraria Camões, por considerar que se tratava um contributo fundamental para a promoção do nosso património cultural”, disse.

Segundo José Estrela, os motivos alegados para o encerramento da livraria, tida como o ponto de referência cultural entre Portugal e o Brasil, “são de que a livraria é pequena, que hoje a Internet e os meios de comunicação são mais activos e podem com facilidade suprir o que a Livraria Camões fazia”.

O responsável pela livraria desde a sua existência, explicou que “a Livraria Camões é, de facto, uma representação pequena para um território tão grande, mas durante 40 anos foi a única base que abasteceu professores, alunos e universidades de livros para a divulgação da cultura portuguesa”.

“(José) Saramago lançou o seu primeiro livro no Brasil, aqui”, lembrou, acrescentando que o mesmo aconteceu com Agustina Bessa Luís e Lídia Jorge, por exemplo.

“É uma perda para o Brasil e é uma perda para Portugal. Era uma lança que nós tínhamos aqui. Eu concordo com o presidente da Imprensa Nacional (Estêvão de Moura) que isto, de facto, é pequeno, mas mais vale termos uma coisa pequena do que não ter nada”, defendeu José Estrela, revelando que já há algum tempo que não recebe livros de Portugal.

“Em 40 anos, já vendemos mais de dois milhões de livros”, indicou ainda o responsável, que também é poeta.

Segundo José Estrela, a livraria foi aberta no âmbito da assinatura de um acordo cultural entre os dois países em 1972.