Investigadores surpreendidos ao descobrir pérolas em ostras no Algarve

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Ostras na ria de Alvor Foto: Enric Vives-Rubio

"Foi uma surpresa para nós", disse ao PÚBLICO Deborah Power, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), responsável pela investigação, ao lado de Frederico Batista e Ana Grade, da Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira do IPIMAR.

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"Foi uma surpresa para nós", disse ao PÚBLICO Deborah Power, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), responsável pela investigação, ao lado de Frederico Batista e Ana Grade, da Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira do IPIMAR.

"A descoberta das pérolas aconteceu quando estávamos a trabalhar num projecto para fazer um levantamento das espécies de ostras no Algarve. Visualmente são todas muito parecidas mas, na realidade, podem ser diferentes", acrescentou a investigadora.

Ao longo de todo o ano de 2011, os investigadores recolheram 756 ostras e, de forma inesperada, encontraram pérolas em dois exemplares de Crassostrea, originária do Japão e importada da França para a criação comercial no Algarve. Num só indivíduo foram encontradas quatro pérolas (com um diâmetro inferior a 2 mm) e noutro foi observada uma pérola com cerca de 5 mm de diâmetro e 190 mg de peso. Esta ostra teria entre dois e três anos de idade, estima Deborah Power.

"Ficámos contentes. Este é um fenómeno muito interessante. Noutros países, como o Japão, já se estimula a produção de pérolas pelas ostras. Mas estas não foram provocadas por nós, cresceram no próprio organismo", acrescentou Deborah Power.

“Este fenómeno é frequente noutras espécies, podendo as pérolas atingir um elevado valor comercial. Mas nos últimos dez anos não tinha sido observado em ostras do género Crassostrea, que existem em Portugal”, disse a Universidade do Algarve, em comunicado.

“As pérolas são produzidas por moluscos bivalves, tratando-se de uma reacção defensiva do hospedeiro a corpos estranhos, tais como parasitas ou partículas inertes. O corpo estranho é coberto por várias camadas, sendo estas constituídas essencialmente por carbonato de cálcio sob a forma de cristais de aragonite”, escrevem os investigadores.

Deborah Power adiantou que já foram enviadas algumas pérolas para um laboratório da Universidade de Cambridge. "Através da realização de vários testes e do estudo da estrutura das ostras vamos tentar saber o que provocou a formação das pérolas."

Depois de um ano de monitorização das ostras do Sul do país, os investigadores confirmaram a "grande diversidade" da região. "A Ria Formosa e a zona do Guadiana são focos de grande biodiversidade".

Agora, os investigadores gostariam de desenvolver estudos para valorizar a espécie portuguesa, Crassostrea angulata, um recurso endógeno e mais adaptado às condições do país.

Questionada sobre os impactos da espécie japonesa sobre a portuguesa, Deborah Power respondeu que os estudos ainda não estão concluídos. "Mas, com base naquilo que observámos, posso dizer que, por enquanto, não há uma grande competição; a japonesa não é considerada invasora, apesar de ocuparem o mesmo espaço. Mas pode haver cruzamento. Esta é uma área com muito interesse".