O Comércio da Póvoa de Varzim fechou 108 anos depois

Foto
Última edição saiu ontem

Dificuldades financeiras ditam a suspensão da publicação, um dos mais antigos semanários do país

"Até sempre Póvoa": foi com estas palavras, escritas sobre o céu crepuscular do mar poveiro, que ontem se despediu aquele que é considerado o segundo mais antigo jornal semanário português, O Comércio da Póvoa de Varzim. Abaixo da fotografia, numa tarja negra, acrescenta-se que o encerramento é "por tempo indeterminado", sendo intenção da gerência que O Comércio volte a sair sempre que houver na cidade "acontecimentos que o justifiquem".

"É o fim de um ciclo, mas queremos que seja também o início de um novo ciclo", disse ao PÚBLICO José Carlos Vasconcelos, membro do conselho editorial do jornal e um dos impulsionadores da renovação que O Comércio conheceu nos últimos cinco anos. Na origem da suspensão da publicação estão dificuldades financeiras motivadas pela quebra das receitas de publicidade, tendo os trabalhadores da empresa sido alertados para a situação no mês passado.

"Uma vez que as perspectivas são para piorar, decidimos suspender. Como semanário, era impossível manter o jornal", explicou José Carlos Vasconcelos, que é também director do Jornal de Letras, Artes e Ideias e que colaborou com o jornal poveiro no início da carreira. "É o mais antigo jornal republicano do país, é parte do património moral de uma terra, pelo que esperamos que esta interrupção permita mobilizar os poveiros", disse ao PÚBLICO.

A correr está já um abaixo-assinado de ex-alunos das escolas secundárias poveiras, os quais, considerando que O Comércio "é património histórico, cultural e humano da cidade", apelam aos proprietários do título para encontrarem uma solução que salve o jornal. "O Comércio da Póvoa não pode morrer! A bem da cultura, da cidadania, da liberdade e da democracia", lê-se no documento subscrito por mais de meia centena de pessoas, entre as quais os jornalistas Martins Morim e José Milhazes.

A despeito das dificuldades, refira-se que o "jornal republicano e defensor dos interesses locais", conforme vinha escrito no cabeçalho, registou, nos últimos anos, uma ligeira subida das vendas, a qual, porém, não foi suficiente para compensar a perda de receitas publicitárias. "Era um jornal decente e digno", considera José Carlos Vasconcelos, que escreveu o texto que justifica a suspensão.

O primeiro número d"O Comércio da Póvoa de Varzim saiu a 3 de Dezembro de 1903. Nos últimos anos, o jornal tinha como director Manuel Frasco, herdeiro do histórico director da publicação, Manuel Agonia Frasco, que liderou a publicação durante várias décadas.

Sugerir correcção