Francês: uma língua bem presente entre nós

Tribuna Ensino de línguas estrangeiras em Portugal

A resiliência da presença da língua francesa entre nós, apesar de todos os discursos alarmistas ou nostálgicos, não deixa de surpreender num contexto marcado pela emergência de novas ofertas linguísticas e pela falsa ideia de que o mundo globalizado será monolingue.

Aliás, o seu estatuto de 2.ª língua estrangeira no nosso ensino não-superior permanece forte (cerca de 240.000 aprendentes de Francês, contra 70.000 de Castelhano, de acordo com os últimos dados fornecidos pelo ME), chegando mesmo a recuperar em certas escolas, depois de ultrapassado ou assumido o efeito de novidade ou de facilidade da aprendizagem do espanhol. Observa-se o mesmo fenómeno ao nível do ensino superior, nomeadamente nas ofertas de formação especializadas e aplicadas.

Tanto mais que - facto novo mas decisivo para a opção da aprendizagem de um idioma estrangeiro -, a actual crise económica veio salientar o esgotamento de alguns mercados e apontar a crescente procura de saídas profissionais em áreas altamente qualificadas (engenharia, enfermagem, gestão, etc.) em França ou noutros países de expressão francesa (Magrebe, África subsariana, Suíça, Bélgica, Canadá, Luxemburgo ou Andorra); o que leva a reconsiderar trunfos e prioridades de formação.

Aliás, são vários os organismos e observatórios internacionais a referir isso mesmo: a aprendizagem da língua francesa traduz-se numa mais-valia considerável de competitividade no momento da candidatura a um emprego qualificado; o que comprovam os requisitos profissionais de vários anúncios dos "cadernos de emprego" dos nossos jornais e semanários. Falar inglês não é suficiente. Hoje em dia todos o falam, mais ou menos. Para se destacar, é preciso falar duas, ou até três, línguas estrangeiras que sejam veiculares em muitos países.

O que é o caso do francês, falado em todos os continentes. É língua oficial ou privilegiada em cerca de quarenta Estados. É língua oficial e de trabalho em todos os organismos europeus e internacionais. A sua presença na Internet é crescente e das mais significativas, tal como a sua presença no ensino de idiomas estrangeiros a nível internacional.

Há, pois, benefícios objectivos de uma formação atenta às potencialidades económicas e geopolíticas da francofonia enquanto espaço cultural e mercado económico, bastando lembrar a importância das nossas trocas comerciais com a França, que permanece o 3.º parceiro económico do nosso país. Mais de 420 filiais de empresas francesas estão presentes em Portugal e as empresas portuguesas são cada vez mais activas no mercado francês, como testemunha o crescimento das exportações. São razões de acréscimo para utilizar a língua francesa.

Aliás, a França é o segundo país estrangeiro de destino dos estudantes portugueses e o quarto no âmbito do programa de mobilidade Erasmus. O ensino superior francês é mais competitivo e mais vocacionado para as disciplinas da globalização do que tradicionalmente se pensa. Por exemplo, na classificação feita recentemente pelo Financial Times dos melhores master in management na Europa e na Ásia, dos dez primeiros estabelecimentos, cinco são franceses.

A afluência aos cursos livres de Francês nas universidades e Alliance Française, assim como as inscrições nas certificações DELF scolaire, a que se junta a experiência positiva e crescente das secções europeias de Língua Francesa nalgumas escolas, traduzem essa procura efectiva do Francês, à qual acresce a busca, por vezes urgente, de saídas profissionais em vários países francófonos.

Para muitos estudantes e candidatos ao emprego qualificado cá dentro, ou à emigração, lá fora, o francês continua a ser um verdadeiro trunfo ou uma bóia de salvamento.

Para muitos investigadores no meio académico, a área dos Estudos Franceses continua a produzir, contra ventos e marés, um número considerável de dissertações de mestrado e de doutoramento. A atracção e o gosto pela cultura francesa e pela cultura francófona continuam a merecer destaque. O sucesso cada vez maior que a Festa do Cinema Francês regista em Portugal ilustra esse interesse pela cultura francesa e o apego dos portugueses à diversidade cultural. Prova disso são também os inúmeros encontros científicos promovidos pela Associação Portuguesa de Estudos Franceses (APEF), nos últimos anos, que continuam a trazer até nós centenas de estudiosos que abrem alas a novas colaborações e novos desafios. Associação Portuguesa de Estudos Franceses (www.apef.org.pt)

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