Mariano Rajoy com maioria absoluta, Pérez Rubalcaba em descalabro

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"Junta-te à mudança" foi o repto pela positiva de Rajoy JOSE JORDAN/AFP

Os próximos dias dirão se o candidato socialista se prepara para culminar, sem brilho nem glória, a sua carreira política. O rival conservador, pela primeira vez, superou-o na aprovação

As últimas sondagens ontem publicadas sobre as eleições gerais espanholas de 20 de Novembro revelam que a candidatura do Partido Popular (PP), liderada por Mariano Rajoy, alcança a maioria absoluta. Já o seu adversário do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Alfredo Pérez Rubalcaba, não consegue inverter a tendência há muito detectada nos inquéritos de opinião e afunda-se. Ao ponto de, pela primeira vez, Rajoy ser mais bem avaliado do que Rubalcaba, uma classificação que sempre fora comandada pelo socialista.

Todas as quatro sondagens divulgadas, as últimas permitidas por lei antes da ida às urnas, reservam ao PP a maioria absoluta. Três dos estudos antevêem, inclusivamente, que a candidatura "popular" se aproxima de um resultado histórico da democracia espanhola: os 200 parlamentares obtidos em 1982 por Felipe González.

Mesmo que esta fasquia não seja superada, a previsão é lisonjeira para a campanha de Rajoy que entra nos derradeiros dias de apelo ao voto mantendo o low profile. Uma estratégia deliberada para não mobilizar o eleitorado de esquerda e assente no melhor aliado possível: o rigor da crise económica, com cinco milhões de desempregados, um crescimento zero do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre e a certeza da chegada da recessão.

Os objectivos do PSOE só são contemplados numa sondagem, que admite que Rubalcaba chegue aos 126 deputados, mais um do que os alcançados em 1996 por Joaquin Almunia. No entanto, os outros três estudos garantem um máximo abaixo dos 125 eleitos. Seria uma débâcle que já levou o candidato socialista a esclarecer: "Seja qual for o resultado, não me demito na noite eleitoral".

As previsões ontem divulgadas deitam por terra as esperanças do staff do PSOE de uma recuperação após o debate da passada segunda-feira. O único confronto televisivo entre os dois principais candidatos não provocou erosão nos fiéis de Rajoy nem mobilizou a esquerda desagradada com o Governo de Rodriguez Zapatero.

Trata-se, aliás, da confirmação de um dado há muito assente. Os conservadores espanhóis têm um sólido solo eleitoral, uma base fiel à qual se pode juntar, no próximo domingo, um milhão de outros eleitores.

A esquerda, devido à existência de mais opções do que a do PSOE, sofre a flutuação de um eleitorado enfurecido pelas políticas de austeridade que Zapatero implantou a partir de Maio do ano passado cumprindo as exigências de Bruxelas: congelamento das pensões sociais, diminuição, em cinco por cento, dos salários do funcionalismo público e fim de deduções fiscais.

A dimensão do castigo é de tal ordem que, no ranking da avaliação dos candidatos, o discreto e cinzento Rajoy impõe-se ao mais dialéctico e vibrante Rubalcaba.

O slogan socialista que apela à participação - "luta pelo que queres" -, não congregou a vontade da esquerda. A proposta "popular" de novos tempos - "junta-te à mudança" - não apenas se conjuga pela positiva, sugerindo também tranquilidade num tempo político e económico marcado pelas incertezas.

Se Rajoy nunca saiu do caminho traçado pelos seus estrategos, adoptando um tom moderado, Rubalcaba apostou em dois tempos de campanha: a cabeça, num percurso didáctico e explicativo da sua mensagem, que não funcionou, e o coração, apelando ao sentimento de esquerda, ainda maioritário entre o eleitorado, a sua "cartada" nos últimos dias de campanha.

A possibilidade de um volte-face é, no entanto, limitada. A situação económica e os tempos de pré-campanha e campanha já há muito determinaram o sentido de voto. Mais: para os cidadãos, o debate televisivo de há uma semana, quando ainda faltavam cerca de duas semanas para o escrutínio, foi entendido como ponto alto. Com uma razoável assistência de 12 milhões de telespectadores, marcou o "zénite" das mensagens. A partir de então, espera-se, apenas, o veredicto dos votos.

O cansaço faz-se notar nas caravanas de Rajoy e Rubalcaba. Mesmo assim, o PP teme um derradeiro movimento do candidato socialista. No debate no pequeno ecrã, por diversas vezes, Mariano Rajoy traçou do seu opositor um retrato de "Maquiavel". Em contraste com as suas posições, "conhecidas e esperadas".

Os próximos dias dirão se a atribuição a Rubalcaba de todos os genes do mal é uma lenda dos corredores políticos espanhóis. E se o candidato do PSOE se prepara para culminar, sem brilho e glória, a sua dilatada carreira política.

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