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Crimes violentos alastram pelo país à medida da crise financeira

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Observatório de Segurança prevê aumento de roubos com violência NELSON GARRIDO

Autoridades dizem que há mais gente a roubar comida e a burlar para obter trabalho, mas também crescem os assaltos à mão armada

Todos os dias é assaltada uma ourivesaria em Portugal. Todos os dias há 30 residências que são roubadas. As burlas para obtenção de alimentos e bebidas [compras em supermercados com cheques ou cartões falsos, por exemplo] aumentaram, no primeiro semestre do ano, quase 42% relativamente ao mesmo período do ano passado. Também as burlas que envolvem a manutenção ou obtenção de postos de trabalho [falsificação de documentos de habilitações, por exemplo] estão a disparar, tendo sofrido um acréscimo de mais de 38%. O crime cresceu pelo país à velocidade da crise financeira e os governantes já não o escondem.

Na quinta-feira, em Lisboa, durante um congresso sobre Observação da Criminalidade, o próprio secretário de Estado da Administração Interna, Lobo de Ávila, confirmou os dados avançados pelo PÚBLICO há mais de um mês, referindo que o roubo por esticão, um dos crimes que mais alarme social causam, aumentou 25%. José Manuel Anes, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade e Terrorismo (OSCOT), não foi mais tranquilizador, prevendo não só o crescimento dos pequenos furtos em estabelecimentos, sobretudo em supermercados, mas temendo também que aumentem as acções violentas praticadas em roubos em residências e no comércio.

Os assaltos a ourivesarias e a lojas que comercializam ouro são actualmente a maior preocupação das polícias. Há, de acordo com fontes policiais, cerca de uma dezena de grupos armados que correm o país para praticar este tipo de crime, por vezes mais do que uma vez por dia.

O presidente do OSCOT diz que se trata de assaltantes portugueses e estrangeiros, sobretudo do Leste da Europa. Muitos deles são violentos, porque são novos e inexperientes, e não possuem pouso certo, percorrendo o país ao sabor da oportunidade. Os estrangeiros, diz José Manuel Anes, enviam o produto dos roubos (depois de fundido por profissionais do sector pouco escrupulosos) para os seus países de origem, onde, de acordo com os indicadores policiais, estão referenciadas as chefias de redes de grandes dimensões que actuam em toda a Europa.

Ouro e tiroteios

A viragem para o ouro (só nos primeiros seis meses do ano, havia registo de 61 ourivesarias assaltadas) explica-se pelo facto de este crime gerar mais proveitos e menos riscos do que, por exemplo, os assaltos a bancos. Nestes locais, para além de existirem portas que se fecham automaticamente, equipamento vídeo, alarmes ligados a esquadras e centrais de segurança e cofres de abertura retardada, o dinheiro obtido raramente ultrapassa os dois mil euros. Com o ouro e as jóias, mesmo vendendo na proporção de um para dez, os ladrões garantem maiores importâncias e melhores possibilidades de fuga.

O "problema" é quando surgem situações como a ocorrida na quinta-feira no Carregado. Os três homens que tentaram roubar uma ourivesaria foram recebidos pelo dono a tiros de caçadeira. Dois ficaram feridos. Enquanto um acabou por ser detido no local, outro encetou uma fuga de automóvel que culminou com o incêndio do veículo. O terceiro refugiou-se numa casa onde estava uma mulher e duas crianças de um e quatro anos. O assaltante acabou por se render, após duas horas de cerco policial.

As estatísticas da justiça referem ainda, tendo como ponto de comparação o primeiro semestre deste ano e igual período de 2010, aumentos muito significativos dos crimes de falsificação (mais 74 %) e burlas informáticas e nas comunicações, que sofreram um acréscimo de quase 42%. Com o aumento dos roubos crescem igualmente os casos de rapto, sequestro e tomada de reféns, os quais aumentaram mais de 10% relativamente ao primeiro semestre do ano passado.

Os indicadores recolhidos mostram que o crime, mantendo elevados números nas zonas de Lisboa, Porto, Setúbal, Braga, Faro e Aveiro, aparece agora com uma forte tendência para flectir para o interior do país. Populações mais isoladas e envelhecidas são alvos fáceis de bandos organizados que, muitas vezes, para além de burlarem e roubarem, também agridem.

No Algarve, onde residem muitos estrangeiros supostamente com mais capacidade financeira, sucedem-se as acções violentas. A última de que há notícia aconteceu na quinta-feira, com um casal de holandeses a necessitar de receber tratamento hospitalar, depois de ter sido assaltado à mão armada dentro da própria casa.

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