O cinema iraniano no seu último refúgio

Foto
Proibido de trabalhar, Jafar Panahi vê os seus filmes anteriores ou "desenha" no chão de casa os cenários dos argumentos que não o deixaram filmar

Quando os realizadores iranianos não podem fazer filmes, filmam-se a si próprios. Cercados, Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb realizaram "Isto não é um filme", que vai ser exibido no DocLisboa e depois lançado em sala e em DVD. Filmado pelo segundo na casa do primeiro, enquanto este estava detido em prisão domiciliária, é a prova de que regime algum consegue matar o cinema. A pena que acaba de ser confirmada para Panahi - seis anos de prisão e 20 anos impedido de filmar, viajar ou dar entrevistas - é o mais mediático dos episódios de uma guerra declarada ao cinema. Cada vez mais feroz. Mas a prova também, dizem-nos exilados iranianos, do "fracasso" dos regime dos "mullahs".

Irão: um país onde, durante anos, o principal censor para o cinema foi um cego. Um regime fanático, que não sabe lidar com o cinema mas não desiste de tentar controlá-lo. Um regime que precisa do cinema porque o cinema é mais forte do que o regime. Paradoxo talvez seja a palavra mais vezes usada para falar do Irão. Paradoxo é que "Isto não é um filme"/ "This is a Not a Film", de Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb, que viajou numa pen USB dentro de um bolo até ao Festival Cannes de 2011, seja, afinal, cinema. Que diga tanto sobre o cinema e sobre o que é o Irão.

Para falarmos de "Isto não é um filme" podíamos viajar pela história do Irão, a que começa a 11 de Fevereiro de 1979, com a Revolução Islâmica que inaugurou o regime dos "ayatollahs". Mas chega-nos a história do realizador Jafar Panahi, 51 anos, e a história mais recente da República Islâmica, a que começa depois das eleições fraudulentas de Junho de 2009, que deram a reeleição ao ultra-conservador Mahmoud Ahmadinejad e fizeram os iranianos perder o medo até serem esmagados pelo regime.

Panahi foi um dos que saiu à rua nos dias da Revolução Verde. Foi detido, depois libertado. Até que em Março de 2010 foi acusado de "planear" um filme sobre as manifestações e preso em Evin, Teerão, destino dos presos políticos. Ali passou três meses. Foi nessa altura, e quando decorria Cannes 2010, que a sua cadeira ficou vazia - fora convidado para integrar o júri - e que a actriz Juliette Binoche recebeu o seu prémio de interpretação, por "Cópia Certificada" de Abbas Kiarostami, exibindo o seu nome e chorando pela sua greve de fome. Seguiram-se outros festivais e outras cadeiras vazias. Cannes assumiu-se como "a instituição internacional" que protege Panahi e um outro realizador, Mohammad Rasoulof, também perseguido pelo regime. O DocLisboa vai agora exibir "Isto não é um filme" (dia 23, às 18h, no São Jorge), "em solidariedade com os dois realizadores [do filme] e com todos os cineastas iranianos".

Entretanto, Panahi foi libertado e novamente acusado, em Dezembro. Recorreu e aguardou a decisão em prisão domiciliária. A pena a que o regime o condenou - sentença confirmada há uma semana - são seis anos de prisão e 20 anos impedido de filmar, viajar ou dar entrevistas. Rasoulof viu a mesma pena confirmada.

A guerra das autoridades iranianas ao cinema é tão antiga como o regime. Disse Panahi que sempre passou 80 por cento do tempo a lidar com os censores e 20 por cento a fazer o seu trabalho. Mas a guerra piorou desde o Verão de 2009, aquele em que os iranianos puseram o regime em causa. E em que soubemos que eles o tinham feito porque os pudemos ver, documentando-se a si próprios com os seus telefones portáteis.

"Isto não é um filme" - estreará a 3 de Novembro, pela Alambique, sendo lançado simultaneamente em DVD, juntamente com um anterior filme de Panahi, "Offside" (2006) - é um filme destes tempos. Dos tempos em que os "mullahs" já aprenderam que basta um telemóvel. Como o telemóvel com que Panahi se entretém a filmar a rua, para lá da sua varanda, e com o qual, a certa altura, se detém no seu co-realizador, o documentarista Mojtaba Mirtahmasb, que pôde estar em Cannes em Maio, mas que em Setembro foi retirado de um avião em Teerão e enviado para a prisão de Evin.

É impossível ver "Isto não é um filme", 99 por cento do qual passado dentro da casa de Pahani, sem pensar nos relatos de tudo o que os iranianos não podem fazer na rua e fazem em casa. Das festas com álcool, com os vestidos que não se podem usar e com a música que não se pode ouvir.

"Os iranianos adoram cinema. Mas a censura e a crise também fazem com que haja menos salas a funcionar e surgiu o mercado negro de DVD. Muitos iranianos que conheço vêem os grandes filmes antes de mim", diz Chahla Chafiq, escritora e socióloga iraniana que vive em França. "O cinema entrou nas casas. Quando não temos liberdade, muitas coisas vão para dentro de casa. Saímos da rua e tudo se passa em casa. A casa é o último refúgio, mas não é de todo seguro, os "pasdaran" [Guardas da Revolução] podem entrar. Mas depois há muita corrupção e, muitas vezes, podemos pagar aos agentes para se irem embora."

O iPhone de Panahi

Foi de Mojtaba Mirtahmasb a ideia: fazer um filme sobre os realizadores iranianos enquanto estes não fazem filmes. Panahi, ficamos a saber por Mirtahmasb, tem documentado momentos da sua vida com o iPhone. E o filme acaba por ser todo Pahani, do pequeno-almoço até à noite. Mirtahmasb, o documentarista, insiste com ele: "O que interessa é documentarmos isto. O que interessa é que as câmaras estejam ligadas. Depois de eu sair, sentas-te ali, olhas para a câmara e continuas".

Quando esteve em Paris, em Maio, numa entrevista ao "Le Monde", Mirtahmasb explicava que não era perseguido como os realizadores de ficção. "O sistema é diferente. Não nos pedem que entreguemos um guião. Tudo o que faço é sem autorização. Só tenho de pedir autorizações pontuais para aceder a determinados locais. As autoridades compreenderam que não podem fazer nada contra os documentários: eles existem. Mas o regime tem a sua palavra a dizer: para serem difundidos, os documentários precisam de uma autorização de exploração. Isso é mais complicado..."

Muito mais complicado. Um dos paradoxos é que um cineasta nunca sabe quais são as linhas vermelhas. "Não pares, faz um plano de mim no caso de eu ser preso", diz Mirtahmasb a Panahi em "Isto não é um filme". Como no provérbio iraniano citado por Mirtahmasb: "Quando não têm clientes, os cabeleireiros cortam o cabelo uns aos outros".

A realidade está sempre a mudar. Com a Revolução Verde, o regime confirmou que "nada pode contra os documentários". Mas depois de "Isto não é um filme", Mirtahmasb foi preso, acusado de ser um espião ao serviço do Reino Unido.

A realidade não pára de mudar. Mirtahmasb foi preso em Setembro e foram detidos outros quatro realizadores e um produtor, acusados de terem "fornecido à BBC em persa informações, filmes e relatórios secretos para pintarem um retrato negro do Irão e dos iranianos". Já em Outubro, a actriz Marzieh Vafamehr foi condenada a um ano de prisão e a 90 chicotadas por ter entrado num filme que evoca as dificuldades dos artistas, enquanto dois destes realizadores, Nasser Safarian e Mohsen Shahnazdar, foram libertados sob caução.

O fracasso do regime

"De há um mês para cá houve um endurecimento. Há dois anos que temos um movimento democrático no Irão e o papel dos cineastas é muito importante. Eles prenderam jornalistas, democratas, liberais, reformistas. Sobrava uma coisa muito importante que era o cinema. Há um organismo chamado Casa do Cinema, que reúne cinco mil artistas, a maioria independentes. Agora, o regime decidiu que não tolera mais essa independência e que a Casa do Cinema tem de ser controlada."

Este resumo é feito ao telefone, de Paris, por Abbas Bakhtiari, músico iraniano que nos últimos anos experimentou o cinema como actor e que em 1989 fundou na capital francesa o Centro Cultural de Pouya, associação independente dedicada às artes. Porque a realidade não pára de mudar, acaba de criar o Comité de Apoio aos Cineastas Presos. Em colaboração com Cannes e com a Cinemateca de Paris promove uma petição em defesa destes artistas, já assinada por nove mil realizadores.

A guerra e a censura têm piorado, mas vêm de sempre, diz também a escritora Chahla Chafiq, que escolheu, como Bakhtiari, a França como país de exílio. "Há uma progressão. Desde o início que os islamistas tentam controlar todos os campos artísticos. Tentaram criar um cinema ideológico, que correspondesse à sua visão do islão. Mohsen Makhmalbaf [realizador de "Gabbeh" ou "Kandahar"] chegou a ser um símbolo desse cinema islâmico mas afastou-se e hoje é opositor. Eles tentaram comprar o cinema, os artistas, mas falharam. Em paralelo, falhou também o projecto social do regime islâmico. A crise económica e social é terrível no Irão, ao mesmo tempo que surgiu nos últimos anos esta resistência mais aberta por parte dos jovens", descreve Chafiq.

Makhmalbaf é a prova deste fracasso. Em tempos visto como "realizador do regime", passou a dissidente e foi porta-voz no exílio de Mir Hussein Mousavi, candidato da oposição derrotado nas eleições fraudulentas de 2009.

O paradoxo é o de um regime que sabe que já falhou mas recusa largar o poder e, nesse processo, se vai tornando mais terrível. Um regime que não pode ignorar o cinema, não só porque os iranianos sempre gostaram de cinema, mas porque o reconhecimento internacional é demasiado grande para ser ignorado. Abbas Kiarostami ganhou dezenas de prémios, incluindo a Palma de Ouro em Cannes ("O Sabor da Cereja", 1997). Pahani recebeu a Câmara de Ouro de Cannes 1995 (melhor primeiro filme) para "O Balão Branco", o Urso de Prata de Berlim para "Offside", em 2006, ou o Leão de Ouro de Veneza para "O Círculo" (2000). Já este ano, "Nader and Simin, a Separation", de Asghar Farhadi, venceu o Urso de Ouro em Berlim. Farhadi contou até com apoios públicos para o fazer, pôde exibi-lo no Irão e vai representar o país nos Óscares.

"O regime está diante de um paradoxo. Há um cinema que cresce muito, internacionalmente, e o regime tenta aproveitar-se disso. Dizer, "vejam, não há assim tanta censura, não somos uma ditadura assim tão má"", conta Chafiq. "Com a crise em que se encontra, o regime decidiu que quer ter um controlo total do cinema. O guia supremo iraniano, o "ayatollah" Khamenei, disse que é preciso acabar com todo este cinema independente, voltar a criar do zero um cinema do regime", lembra a escritora. Mas, ao mesmo tempo, "a pressão actual, com a crise económica e social, faz com que haja fissuras dentro do regime, e eles não podem controlar tudo sempre".

"Precisamente porque a fronteira é difícil de traçar, cada realizador reflecte em busca de soluções. "Nader and Simin, a Separation" [previsto para estrear em Portugal este ano, também pela Alambique] não é um filme político, mas Asghar, que vem de uma família pobre, diz que há problemas. Diz, por exemplo, que toda a gente é hoje mentirosa no Irão, e isso é uma mensagem muito forte", afirma Bakhtiari. Para Chafiq, o filme de Asghar Farhadi "é social e é político, tem essa ideia muito forte dos mentirosos, de que o poder cria mentirosos".

É tudo político

Todo o cinema iraniano é político ou somos nós que vemos política em todo o cinema iraniano? Bakhtiari admite que há bom cinema iraniano que "não é perigoso para o regime, não tem grande mensagem, procura as coisas simples". E está a falar de Abbas Kiarostami, o mais consagrado dos cineastas iranianos, que durante décadas, escondido atrás dos óculos escuros, recusou qualquer crítica ao regime. "Ele tem o seu próprio olhar, prefere responder com o silêncio", diz Bakhtiari.

A verdade é que nem Kiarostami consegue permanecer em silêncio. Quando Panahi esteve na prisão, Abbas escreveu aos líderes iranianos e descreveu a detenção como "intolerável" e um ataque a todos os artistas.

Para Bakhtiari, não é obrigatório um filme reflectir a realidade política, mas é "muito natural" que isso aconteça no Irão. "Todos os dias se passam coisas graves, há pessoas presas na rua, presos políticos mortos, falta de igualdade, falta de dinheiro... Agora foi o preço dos ovos que aumentou. Há guerras na rua por um lugar para estacionar o carro ou na fila do pão."

Para Chafiq, é impossível filmar no Irão sem essa dimensão política. "O poder está por todo o lado, é um regime totalitário, isso quer dizer que ocupa a totalidade do espaço social. O cinema não pode fugir a isso", afirma. Nem o de Kiarostami: "Mesmo o cinema de Kiarostami, o mais apolítico do Irão, acaba por cair na política. Em "Dez", por exemplo, ou em "Shirin", quando as actrizes choram e são só as mulheres que choram, há uma dimensão simbólica que nos leva à situação política" - "Dez" são as dez mulheres que uma condutora vai apanhando nas ruas de Teerão, da velha devota à prostituta; "Shirin" são 150 iranianas (e uma francesa, Juliette Binoche) a olhar para um suposto filme mas na verdade a pensar na vida e a chorar. "A dimensão política está lá e vamos à procura dela. Com o nosso olhar, acrescentamos outras dimensões políticas, outros sentidos", conclui Chafiq.

O regresso a casa

Pahani começou a trabalhar precisamente como assistente de Kiarostami. Em "Isto não é um filme" passa em revista parte da sua obra. Vemos no seu Homevideo uma cena de "Sangue e Ouro", que ele usa para mostrar como a expressão de um actor não profissional pode transformar um momento, dando-lhe uma carga que não se antecipara. Faz o mesmo com "O Círculo", para mostrar como o espaço físico transmite a ansiedade de uma personagem. E lê guiões dos filmes que não conseguiu fazer ("Comigo a ler o guião, talvez o espectador veja o filme que não foi feito", desaba).

Este filme que "não é um filme" "deixou os líderes iranianos em cólera", conta Chafiq. Porquê? "Porque é um filme, um filme onde há uma articulação entre a imaginação, a ficção e a realidade, que explora a realidade da censura".

Panahi quis filmar a história de Maryam, uma jovem que entrou para Belas Artes mas que é encerrada em casa pela família, que quer impedi-la de se matricular. Panahi podia filmar-se sozinho, a ler o guião, mas prefere ter liberdade de movimentos, para si e para a câmara, e então tenta fazê-lo com a ajuda de Mirtahmasb. E vemo-lo, a criar décors com pedaços de fita que cola em cima do seu tapete persa. "Aqui é o quarto, aqui está a cama, aqui é a porta, aqui a janela."

Maryam está presa em casa e agora é Panahi que se vê preso em casa. "Este filme é uma reflexão sobre o seu próprio cinema", diz Chafiq, a pensar em "O Círculo", que nos mostra a fuga da prisão de mulheres tão encurraladas nas ruas de Teerão como na cadeia, e em "Offside- Fora-de-Jogo", em que Panahi filma um jogo de futebol que nunca chegamos a ver, enquanto uma rapariga disfarçada de rapaz tenta entrar no estádio. A rapariga, e outras que tentaram o mesmo, passa o jogo vigiada por soldados, atrás de grades num espaço no exterior do estádio. No fim, entra num autocarro para regressar a casa e fica livr para gritar.

"O tema é este impasse, filmado sempre a partir da vida de mulheres. No "Círculo" temos o tema de uma jovem presa, uma metáfora da sua prisão pessoal, da prisão de toda uma sociedade. No fim de "Offside", quando o autocarro chega, elas entram para regressar a casa. No "Círculo" há um impasse e depois a saída para a rua, uma abertura na direcção do público. De forma metafórica, é um pré-anúncio da revolução" de 2009, sustenta a escritora. "Agora, em "Isto não é um filme", regressamos a casa, à casa enquanto prisão. Mas mesmo no fim do filme, há uma abertura ao exterior..."

Pahani acaba de ver a sua sentença confirmada e pode ser levado para a prisão. "Só a pressão internacional é que adiou a decisão do recurso", dissera Bakhtiari dias antes desta confirmação. A conversa com Chafiq aconteceu já depois. "Panahi é uma vítima, um símbolo. Eles decidiram esmagar Panahi para mostrar que podem esmagar o cinema todo. A confirmação da condenação é catastrófica. Eles estão a jogar com o mundo para mostrar que não têm medo."

Mirtahmasb, o co-realizador de "Isto não é um filme", continua em Evin, sem saber o que esperar. "A mãe visitou-o e diz que ele perdeu seis quilos. A pressão internacional é importante. A petição internacional tem sido publicitada nos media da oposição, isso é extremamente importante para que os realizadores saibam que há artistas a pensar neles. As acções nos festivais também são positivas", sublinha Bakhtiari. "Se amanhã houver uma homenagem a Mirtahmasb num festival em Portugal vamos encontrar uma forma de ele saber disso na prisão. Isso vai ajudá-lo, dar-lhe energia, porque há três semanas que o Ministério da Informação lhe diz que se deixe filmar a assumir que é um espião dos britânicos."

Estará todo o cinema independente iraniano condenado? "Há um cinema jovem, mais social do que político, que vai ser difícil de controlar", nota Chafiq. "Esta guerra dura há mais de 30 anos. Estamos num novo ambiente é certo, mas o cinema nunca vai morrer. Talvez os jornalistas não possam mais trabalhar e os políticos sejam todos presos, mas o cinema vai sempre continuar. Vão aparecer novas soluções. Os jovens vão encontrá-las", assegura Bakhtiari. "Talvez um jovem iraniano decida fazer um filme com um produtor português, em que um actor português imagina a vida de alguém no Irão..."

Chafiq tem outra esperança, a de que com esta guerra o regime esteja a ir demasiado longe. "Estes cineastas são muito conhecidos. Talvez com estas prisões nos voltemos a lembrar de todos os jovens democratas presos, das violações nas prisões, da tortura. Porque nos esquecemos deles desde 2009. Talvez agora a questão dos direitos humanos deixe de se reflectir só nas palavras dos líderes ocidentais e passe a contar tanto como a questão nuclear. Talvez isto venha a aproveitar todas as vítimas."

Ou talvez não. Talvez Mirtahmasb continue na prisão e Panahi acabe por se lhe juntar. Eles, que só querem fazer filmes. "Nós preferimos ser homens livres do que heróis presos. Não somos combatentes políticos. Somos realizadores", disse Mirtahmasb.

Agora já são "heróis presos". Mas por mais pequena e escura que seja a cela, vão continuar a ser realizadores. De alguma forma, o mundo vai continuar a chegar até eles. Tal como o fogo-de-artifício com que os iranianos celebram o Ano Novo Persa entra pela casa de Panahi no final de "Isto não é um filme". O fogo que os iranianos continuam a lançar ainda que o regime proíba esta celebração "não islâmica". O filme que Panahi fez ainda que estivesse proibido de filmar. O cinema não morre. "O que interessa é documentarmos isto. O que interessa é que as câmaras estejam ligadas."

Sugerir correcção