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Ex-vice-cônsul tinha salário penhorado há mais de um ano e meio quando foi nomeado

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Autoridades brasileiras enviaram caso para a Interpol FERNANDO VELUDO/ARQUIVO

Adelino Pinto contabiliza pelo menos cinco processos de cobrança de dívidas nos tribunais, mas rejeita ter sido o responsável por essas despesas

O ex-vice-cônsul Adelino Pinto, acusado de quatro crimes pelo Ministério Público brasileiro, tinha o salário penhorado há mais de um ano e meio quando foi nomeado para o vice-consulado de Portugal em Porto Alegre, no Brasil.

O técnico superior do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que continua suspenso, mantém desde Maio de 2008 a remuneração penhorada, tendo tido pelo menos mais quatro processos de cobrança de dívidas nos tribunais. O MNE e o próprio Adelino Pinto confirmam a penhora do salário, um facto desvalorizado pelo próprio. "Isso não tem qualquer relevância. Há muitos funcionários na mesma situação", argumenta o ex-vice-cônsul, que insiste na sua inocência.

Adelino d"Assunção Nobre de Melo Vera-Cruz Pinto, que trabalhava no Protocolo de Estado, foi nomeado vice-cônsul pelo ex-secretário de Estado das Comunidades António Braga, em Janeiro de 2010. Nessa altura, já o MNE começara a descontar-lhe um terço do ordenado, no âmbito de um processo executivo que corre no Tribunal de Almada. A acção foi intentada em 2006 com base no reconhecimento de uma dívida de mais de 78 mil euros a uma mulher com quem esteve para se casar. Cerca de metade deste valor continua por saldar. Relativamente a este caso, Adelino Pinto diz que foi obrigado a assumir a dívida e explica apenas que os dois tinham feito compras em conjunto, o que se complicou com o final do noivado. Já quanto às restantes dívidas, uma das quais de uma operadora de telecomunicações móveis cuja acção judicial foi intentada este ano, garante estar tudo pago e insiste que teve que assumi-las, apesar de não ter sido responsável por elas. Além de facturas de telemóvel não pagas, que num dos casos ascendia a mais de 3500 euros, houve um processo intentado pela Unicre, especializada na emissão de cartões de pagamento, e outro de um hospital privado.

O assessor de imprensa do MNE, Miguel Guedes, confirmou que o funcionário tem o salário penhorado, sem adiantar mais informações. Adelino Pinto foi exonerado a 30 de Setembro do cargo de vice-cônsul "por fundamentada conveniência de serviço", como se lê no despacho publicado no Diário da República. O seu advogado garante que os factos que lhe são imputados no processo disciplinar não constituem qualquer tipo de burla ou enriquecimento ilícito, sendo "apenas irregularidades do foro disciplinar".

Adelino Pinto recusa responsabilidades no desaparecimento de mais de um milhão de euros que a arquidiocese de Porto Alegre lhe entregou para pagar a caução de um donativo de 5,2 milhões por parte de uma organização não-governamental (ONG) belga, um caso que levou a Justiça brasileira a decretar a sua prisão preventiva. "Eu fui tão enganado como os padres", insiste. E garante ter entregado o dinheiro a uma portuguesa, Teresa F.C., ligada à ONG que iria patrocinar parcialmente a recuperação de duas igrejas de origem portuguesa naquela região brasileira e cujo paradeiro desconhece.

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