A música é jovem e cheia de vida

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A violinista ucraniana Tamila Kharambura venceu a Grande Final dr

O Prémio Jovens Músicos fez 25 anos. Para assinalar este quarto de século do prémio promovido pela Antena 2, os organizadores lançaram este ano algumas novidades num formato de "festival". Realizado em várias salas da Fundação Gulbenkian, o Festival Jovens Músicos 2011 incluiu a participação de alguns vencedores de edições passadas, abriu espaço para o jazz e para um recital de guitarra portuguesa, e propôs três debates sobre os desafios do ensino da Música em Portugal, o futuro dos jovens músicos e os novos caminhos do fado. Para além disso, a Antena 2 desafiou alguns compositores portugueses a compor novas peças para estrear na ocasião.

No primeiro dia deste festival aberto ao público (e com entrada livre para todos os concertos, excepto o concerto de gala), houve a Grande final do Prémio Jovens Músicos. João Xavier, um excelente pianista de apenas 17 anos, enfrentou corajosamente dois andamentos do Concerto para piano e orquestra n.º 3 de Prokofiev, que nem pareceu a obra extremamente difícil e virtuosística que é, em particular o extraordinário Allegro ma non troppo final, que exige ao mesmo tempo sensibilidade e peso para tirar o máximo som do piano e vencer o magnífico "combate" com a orquestra. Seguiu-se Fernando Costa, que tocou os dois andamentos finais do concerto para violoncelo de Elgar com muito à-vontade. O concerto de Elgar, um bela partitura neo-romântica de 1919, é uma peça quase obrigatória dos grandes violoncelistas. Jaqueline Du Pré deu-lhe um fôlego novo nos anos 60 (ela que se lançou nas salas de concerto aos 17 anos precisamente com esta obra). O solista laureado Fernando Costa, de 20 anos, aproveitou bem para mostrar as suas qualidades técnicas e expressivas.

Depois veio Tamila Kharambura, jovem violinista de origem ucraniana, que arrebatou o título recém-criado de Jovem Músico do Ano ao vencer esta Grande Final interpretando outra obra de grande efeito, o Concerto para violino e orquestra de Tchaikovsky, de que tocou o magnífico primeiro andamento. Para além das qualidades técnicas e de uma afinação sem mácula, Kharambura destacou-se por uma cativante presença em palco, fazendo do violino a continuação natural dos seus braços e dos seus gestos e dialogando com imponência com a orquestra Gulbenkian, muito bem dirigida aliás pelo maestro Pedro Neves.

No dia seguinte, laureados de anos anteriores mostraram que este prémio deixa marcas e pretende ser um projecto com continuidades: Bruno Borralinho (violoncelo) e Pedro Ribeiro (oboé), jovens intérpretes com carreiras bem lançadas, deram espectáculos com concertos de Joly Braga Santos e Richard Strauss, respectivamente, acompanhados pela Orquestra Metropolitana. Na noite de sexta-feira foi tempo para os vencedores da categoria de música de câmara, começando pelo nível médio, em que venceram as Percussões da Metropolitana (André Camacho, Miguel Filipe e Tomás Moital), que deram um pequeno mas eloquente e animado concerto de percussão a seis mãos. Seguiram-se os vencedores do nível superior, o Dryads Duo, ou seja, Carla Manuel Santos e Saul Batista Picado, que tocaram brilhantemente uma interessante sonata de Janacék para violino e piano. O premiado e entusiasmante quarteto Vintage (com quatro excelentes clarinetistas) fechou a noite com peças de Françaix e Bondon. Mas antes disso houve um outro grande momento musical, quando o quarteto Artzen, vencedor do Prémio em 2007, interpretou as cinco peças para quarteto de cordas de outro compositor checo, bastante menos conhecido do que Janacék mas não menos importante, Erwin Schulhoff. Mostrando ao público que um projecto musical juvenil se pode tornar uma coisa muito séria e musicalmente muito madura.

Eles já fazem a diferença

A Gulbenkian mudou de figura nestes três dias, com concertos no foyer, muita juventude e as portas abertas para a maior parte dos concertos. A Antena 2 e a televisão ali instalaram pequenos estúdios improvisados para acompanhar as actividades. No último dia, houve um Concerto de Gala, com uma estreia da encomenda da Antena 2 ao compositor Carlos Caires (uma peça para electrónica e orquestra, intitulada Instante) e o regresso de Tamila Kharambura, desta vez para interpretar o concerto de Tchaikovsky de uma ponta à outra. O concerto fechou com uma óptima interpretação da Orquestra Gulbenkian do poema sinfónico Vathek, de Luís de Freitas Branco, uma das obras mais vivas da música portuguesa do século XX.

Na noite do último dia veio o jazz, uma das novidades do Prémio Jovens Músicos deste ano. Tocaram primeiro os vencedores do combo jazz, o quarteto de Ricardo Toscano (com o próprio acompanhado de André Filipe dos Santos, João Hasselberg e João Pedro Pereira) e depois a Big Band do Hot Clube de Portugal, dirigida por Pedro Moreira e interpretando novas obras de jovens compositores portugueses.

Ao mesmo tempo, no Centro Cultural de Belém, realizava-se a 5.ª festa das escolas de música (uma iniciativa chamada 1001 Músicos). Parece que algo mudou e continua a mudar no ensino da Música em Portugal, apesar de todas as dificuldades, de todas as limitações e apesar de ainda haver quem não tenha entendido que o ensino artístico não é coisa secundária no desenvolvimento físico e intelectual do ser humano. Encontros como estes que põem a vivência musical, a aprendizagem e a cooperação à frente da competição (apesar de se darem prémios e haver "vencedores"), estão a mostrar que Portugal tem já - e pode ter muito mais - uma quantidade e uma qualidade de jovens músicos que vai fazer toda a diferença. Já está a fazer.

O Festival Jovens Músicos 2011 decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, entre 6 e 8 de Outubro

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