José Jorge Letria

Com que idade percebeu que falhou na vida?

Quando percebi que nem dez vidas me chegariam para ler todos os livros que comprei e fui recebendo ao longo dos anos.

Qual a diferença entre um alfacinha e um tripeiro?

Cerca de 300 quilómetros e alguns ridículos preconceitos de parte a parte.

Qual a sua qualidade que mais irrita os seus amigos?

Duas em uma, como nos shampoos: a persistência e a capacidade de trabalho.

Qual o seu defeito que mais os enternece?

O continuar a acreditar que todos os amigos são dignos desse nome.

Trata de forma diferente as pessoas feias e as bonitas?

Não, porque aprendi que a beleza pode ocultar a pior das fealdades, a interior.

Com que figura pública se acha fisicamente parecido?

Apetece-me escolher Ernest Hemingway aos 60, com barba toda branca e o rosto queimado pelo sol, mas sem caçadas em África nem pescarias ao largo de Havana.

Tem números que memorizou no telemóvel só para não atender?

Não os memorizei no telemóvel mas dentro da minha cabeça. É um útil exercício de memória.

Com que regularidade se googla?

Sempre que preciso e tenho tempo. É a minha navegação preferida.

Que jornal ou revista usaria para matar um insecto?

Depende do insecto. Há revistas para tudo, e insectos também. Para o de A Metamorfose, de Kafka, teria de ser um número de aniversário.

Se fosse jantar com Woody Allen, onde o levaria?

A um restaurante onde ninguém lhe pedisse autógrafos. Mas será que existe tal coisa neste bacoco império da "fama"?

O que almoçou hoje?

Sardinhas assadas fresquíssimas com uma excelente salada a acompanhar.

E o que deveria ter pedido?

Exactamente o mesmo, mas com mais tempo.

Qual o segundo momento mais marcante da sua vida?

Aquele em que percebi que não era imortal.

Sem ser essa mariquice de morrer a dormir, como é que preferia morrer?

Lúcido e na companhia dos meus cães e gatos, porque não sabem maquilhar emoções.

Agora a sério, alguma vez encolheu a barriga?

Algumas vezes, para passar no meio de duas pilhas de livros sem as derrubar.

Num incêndio em sua casa, que objecto faria tudo para salvar?

Talvez o meu computador, porque está lá dentro muito de mim.

Qual o luxo pré-crise de que tem saudades?

O de não ter de aturar diariamente tantos economistas a falarem da crise que durante anos ajudaram a ocultar, por incompetência ou conveniência.

Quantas vezes já fez amor a uma terça-feira?

Esqueço-me com frequência do dia da semana, mas nunca do que tenho para fazer.

Já fingiu que não viu um amigo de há 20 anos?

Eu não, mas a minha ligeira miopia sim. Nem sempre se pode trabalhar em equipa.

Quando foi a última vez que teve medo de um médico?

A partir de uma certa idade, esse medo torna-se mais frequente.

Numa luta entre um tubarão e um tigre, quem ganha?

Em tempo de crise, o tubarão costuma levar vantagem porque se torna espécie protegida, abocanha melhor e tem sequelas como o filme com o seu nome.

Quando quer impressionar, que escritor cita?

Normalmente, um morto e bem morto, mas de uma língua viva.

O que é que realmente pensa dos homens que choram?

O melhor possível. Aprendi com o meu pai que costumam ser os mais valentes.

Já alguma vez bateu em alguém com razão?

Não, mas lamento bastante.

Alguma vez sentiu que engorda mais facilmente do que os outros?

Teimo sempre em dizer que não, mesmo quando a evidência me desmente.

Este mês contribuiu para a felicidade de alguém?

Ainda estou para descobrir o que é a felicidade.

Este é um dos três melhores inquéritos a que já respondeu na vida?

Já não me lembro dos outros dois, o que é vantajoso para este ranking.

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