A lusofonia como factor de progresso

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O espaço linguístico deve ser entendido numa perspectiva dinâmica, com incidência no processo de recuperação económica

Sendo embora um país em grave situação financeira, económica e social, Portugal tem, entre outros, como elemento distintivo em relação à Grécia, onde o colapso parece estar iminente, o facto de estar inscrito num espaço linguístico - o da lusofonia -, que deverá ser entendido numa perspectiva dinâmica e produtiva, também com incidência no processo de recuperação económica.

Hoje, no mundo, há mais de 220 milhões de pessoas que usam quotidianamente o português para escrever, falar, criar e expressar emoções e anseios. Essa riqueza não poderá, em circunstância alguma, ser subestimada ou desvalorizada. Temos, neste tempo e neste mundo globais, a força que tem a língua comum que usamos para comunicar e que pode e deve funcionar como um poderoso instrumento de aproximação e cooperação entre países e povos de cinco continentes. Essa dinâmica não deve esgotar-se no domínio das relações culturais e artísticas, apesar da sua inquestionável relevância.

Destaque-se o facto de o programa do Governo anunciar que se irá reforçar "o papel do português como língua de comunicação internacional junto das instâncias internacionais e em profunda concertação com os restantes países da CPLP, relembrando que, mais do que criar novas entidades de promoção da língua interessa potenciar aquelas que já existem". Resta esperar e desejar que assim aconteça de facto, já que uma verdadeira e consistente política da língua pode ser um factor de progresso cultural, civilizacional, mas também económico e social.

O português é, pelo legado de civilização e história que lhe está associado, um património universalista e humanista que urge reequacionar e reavaliar, muito para além da sua dimensão meramente linguística.

O livro A Lusofonia - Uma Questão Estratégica Fundamental, coordenado por Ernâni Rodrigues Lopes e editado pelo jornal Sol, coloca em evidência a necessidade de se proceder a uma nova abordagem do conceito de lusofonia e das vertentes socioeconómicas e políticas que lhes estão inevitavelmente associadas. Os textos que integram esta obra colectiva enfatizam as questões relacionadas com a estratégia e a acção que começam na herança linguística e cultural comum e terminam na área da geopolítica, da estratégia do mar e da cooperação científica e tecnológica. Esta visão dinâmica pressupõe um novo olhar sobre a ideia da lusofonia e sobre o papel que poderá ser-lhe atribuído, no quadro de uma perspectiva abrangente e global. Mais do que nunca, o espaço lusófono deverá ser entendido e valorizado na dimensão política e de cooperação que lhe é conferida pelos oito Estados soberanos que têm o português como língua comum.

Mais do que um legado linguístico do passado, a lusofonia deverá ser entendida e tratada como um projecto global apontado para um futuro que já é presente. Esse futuro tem na sua essência as afinidades de natureza cultural que aproximam e tornam fraternos e cúmplices povos que, na sua exaltante multiculturalidade, serão muito mais fortes e empreendedores neste mundo global se souberem caminhar juntos e pensar conjuntamente o tempo que está para vir. Este tempo exige solidariedade activa, visão estratégica, ausência de preconceitos e complexos históricos e ainda a capacidade de se fazer de uma língua comum um instrumento de crescimento e progresso. Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

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