Torne-se perito

Perfil Anders Behring Breivik

O extremista que só tinha no cadastro uma multa de trânsito há dez anos

"Ele apareceu do nada", confessava um polícia encarregado da investigação. O principal suspeito dos ataques que causaram mais de 80 mortos na Noruega era, segundo os media nacionais, um fundamentalista cristão norueguês de 32 anos. Anders Behring Breivik, que aparece nas fotografias com ar sereno, cabelo fino e louro, testa alta, olhos claros rasgados, nariz afilado e queixo forte, terá levado a cabo uma das maiores matanças atribuídas a uma só pessoa, se for confirmado que não houve ajuda ou ligação a um grupo organizado.

"Ele não estava no nosso radar, e estaria se tivesse sido activo em grupos neonazis na Noruega", disse um responsável da polícia, sob anonimato. "No entanto, pode ter sido inspirado por eles." No seu registo na polícia, apenas foi encontrada uma multa de trânsito de há dez anos.

Sabe-se que Breivik tinha sido membro de um partido populista de direita, que estava registado num clube de tiro de Oslo (tinha três armas legalmente em seu nome), tinha em seu nome uma empresa de exploração agrícola (não se sabe se seria apenas um meio de ter acesso a grandes quantidades de fertilizantes que podem ser usados em explosivos) e teria feito intervenções em vários fóruns na Internet contra o multiculturalismo na Noruega, criticando os efeitos da presença de população muçulmana no país.

"Quando é que o multiculturalismo vai deixar de ser uma ideologia para desconstruir a cultura europeia, as suas tradições, identidade, e Estados-nação?", dizia uma entrada sob o nome de Breivik de Fevereiro do ano passado, num fórum de extrema-direita, segundo a agência Reuters. "De acordo com dois estudos, 13 por cento dos jovens muçulmanos britânicos apoiam a ideologia da Al-Qaeda", dizia outra vez.

Também criticou o "assédio" de jovens muçulmanos aos noruegueses não muçulmanos: "Sei de várias centenas de ocasiões em que não muçulmanos foram assaltados, agredidos, e assediados por adolescentes islâmicos", relatou uma vez. "Entre os 12 e os 17 anos tive um melhor amigo que era paquistanês, por isso é um dos que era protegido. Mas isto também me fez ver a hipocrisia e enojava-me."

Breivik criou uma conta de Twitter e uma no Facebook (esta última foi entretanto retirada) há seis dias, deixando na rede de microblogging uma frase do filósofo britânico John Stuart Mill - "Uma pessoa com uma crença tem tanta força quanto 100 mil pessoas com interesses" - enquanto no site de rede social se descrevia como cristão, maçon, e indicava Kakfa ou Orwell como autores favoritos.

O jornal norueguês Verdens Gang (VG) citava um amigo dizendo, sob anonimato, que Breivik tinha começado a expressar ideias de extrema-direita há poucos anos num perfil "racista" no Facebook.

Antes disso, tinha pertencido ao Partido Progressista, formação da direita populista que defende uma descida dos limites à imigração que tem vindo a crescer recentemente no país e que passou nas últimas eleições em 2009 a segunda força política. O partido confirmou que Breivik tinha sido membro da formação entre 2004 e 2006 e da sua ala jovem de 1997 até 2007. O líder do partido, Siv Jensen, sublinhou à Reuters: "Deixa-me muito triste que ele tenha sido membro anteriormente. Nunca foi muito activo e tivemos dificuldades em encontrar alguém que soubesse alguma coisa sobre ele."

Nas fotografias, Breivik, que estudou na Escola de Gestão de Oslo, aparece vestido com casaco e camisa e alfinete na gravata, embora alguns vizinhos tenham afirmado que por vezes aparecia usando roupa tipo militar. As empresas que foi estabelecendo, diz o diário britânico The Guardian, foram acabando depois de breves períodos de prejuízos, até ao negócio de agricultura biológica em 2009, que terá sido essencial para Breivik conseguir seis toneladas de fertilizante, entregues em Maio, segundo o fornecedor.

Quem viu Breivik na ilha descreveu um homem com uma calma "de gelo". A polícia dizia estar perante um enigma, e um responsável sublinhava o facto de ele não se ter tentado matar. "Pelo contrário, disse que se queria explicar." Maria João Guimarães

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