O que nos pode fazer sair da crise é a inovação

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Com dois colegas de MBA, criou um projecto inovador no país, a InoCrowd, ponto de encontro entre empresas e investigadores para solução de problemas. Já venceu o prémio de negócios do Movimento Milénio e o 5.º Concurso de Ideias de Negócio DNA Cascais.

O elevado desemprego entre os jovens com formação superior pode ser, em parte, resultado de pouca interacção entre empresas e universidades?

Esta falta de emprego de jovens muito bem formados e com um elevado nível de informação pode ser uma grande oportunidade para o meu negócio. Nós pusemos a plataforma online dia 29 [de Junho] e, em cinco minutos, tivemos cinco ou seis solvers portugueses a registarem-se para resolver desafios. E todos eles com um perfil académico superior, inventores ou investigadores (não sei se empregados ou desempregados). Por aqui também se vê a criatividade da população portuguesa. Não baixamos os braços.

A que necessidades é que a InoCrowd procura responder?

Actuamos essencialmente em sectores que necessitam de estar constantemente a inovar para serem mais competitivos, para poderem exportar mais. Temos empresas que todos os dias têm desafios e dentro das suas equipas de investigação e desenvolvimento (I&D) não conseguem arranjar soluções. A nossa proposta de valor é darmos dimensão para poderem procurar soluções [na crowd, multidão] que vão ao encontro daquilo de que necessitam de uma forma mais rápida, eficiente e com redução de custos.

O objectivo é articular dois mundos por vezes desencontrados?

De acordo com o European Innovation Scoreboard [de Fevereiro] houve um aumento do número de investigadores per capita e também um aumento da quantidade e da qualidade da investigação feita no país. Quando vou às universidades portuguesas, verifico que há uma série de investigações na gaveta. Soluções que poderiam estar a ser utilizadas pelas nossas empresas. Falta ligação entre o mundo académico e o empresarial, entre quem tem uma solução e quem a procura. Para isso, surge a InoCrowd, através de uma plataforma que desenvolveu, baseada na Web 2.0. A empresa coloca um desafio na plataforma, lançado para dois tipos de multidão: uma que pode ser académica ou então uma ligada à rede profissional LinkedIn (somos os únicos a ter uma parceria com eles e acabamos por poder ir buscar solvers a todo o mundo). É escolhida pela empresa a melhor solução, que paga apenas pela melhor solução ao investigador/inventor.

Este sistema aumenta verdadeiramente a competitividade das empresas?

A Procter & Gamble já utiliza estes modelos de inovação aberta desde 2006 e, em quatro anos, aumentou a produtividade de I&D em 60 por cento e saltou de 35 por cento para 75 por cento na introdução de novos produtos no mercado. De acordo com um estudo publicado pela Forrester, este tipo de investimento de inovação aberta pode dar ganhos de retorno do investimento de 182 por cento num ano.

Isto não levará as empresas a desinvestir nas equipas de I&D?

As equipas de I&D são muito importantes neste processo e não devem ser, de todo, postas de lado. Queremos ser um add-on para a inovação: se a empresa não conseguir encontrar soluções dentro da sua equipa, deve procurar uma resposta na inovação aberta. Contudo, a equipa de I&D é necessária para perceber qual é a melhor solução. É um trabalho conjunto. As próprias equipas de I&D podem pegar numa solução teórica que é apresentada por um investigador japonês ou chinês e, a partir dali, desenvolver in-house aquilo que lhe foi proposto.

Fazia falta uma rede social para a inovação?

Se agora temos uma rede social que liga amigos, familiares, pessoas de trabalho, por que não criar uma rede social que liga profissionais com profissionais? Neste momento, o que nos pode fazer sair da crise é a inovação - e a inovação não pode continuar a ser uma palavra apenas. Precisamos de inovar, mais e melhor, e de tirar retorno económico da inovação que estamos a fazer nas universidades.

claudia.sobral@publico.pt

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