Equipa constituída por jogadores da III Divisão e regionais venceu todos os jogos até à final que se disputa hoje em Barcelos

Não é o hino da Liga dos Campeões que se ouve quando os jogadores entram em campo, ainda que a competição tenha também uma música oficial. Mas há crianças de mãos dadas e camisolas oficiais da UEFA a acompanhar os atletas. Estes podem ser jogadores amadores, mas a Taça das Regiões é uma prova europeia.

"É um campeonato da Europa de futebolistas amadores", sublinha Dito, antigo internacional que treina a selecção regional de Braga. É esta a equipa que representa Portugal há uma semana na fase final da Taça das Regiões, que este ano se disputa no Minho. E será o técnico que se vai sentar num dos bancos do estádio Cidade de Barcelos, a partir das 18h30 de hoje, para orientar uma das equipas finalistas da competição. Do outro lado estarão os irlandeses da região de Leinster & Munster.

O percurso da equipa de Braga foi imaculado: três triunfos na fase intermédia, em Janeiro, e outros tantos na fase final. Um percurso cem por cento vitorioso selado no domingo, em Vila Verde, com uma vitória por 3-1, frente à equipa de Wurttembergischer, da Alemanha. Um jogo com os condimentos dos duelos do futebol que está todos os dias nos jornais: um golo anulado, uma expulsão, bolas na trave e vários golos. Mas também com outros ingredientes: pouco público nas bancadas (715 espectadores) e três pausas concedidas pelo árbitro para que os jogadores pudessem beber água e escapar aos 38 graus daquela tarde.

"Estes são jogadores que trabalham ou estudam e só ao final do dia treinam. Ontem, tive um jogador que teve que sair do estágio para ir fazer um exame à universidade", conta Dito. "Este momento é importante sobretudo para ele, porque pode dar visibilidade a atletas com qualidade que estão a jogar na III Divisão Nacional ou na Divisão de Honra regional", explica o técnico, que antevê a possibilidade de alguns destes jogadores assinarem contratos profissionais tendo em conta a exposição que a Taça das Regiões lhes tem dado.

Foi o que aconteceu já com Emanuel, médio de 21 anos, do Esposende, que vai jogar no Varzim, e Renato, de 20 anos, que assinou um acordo com o Desportivo das Aves. Portugal tem um outro caso de sucesso, que remonta a 2001, o ano em que a selecção de Braga alcançou pela primeira vez a final da Taça das Regiões. O lateral-direito dessa equipa era Tony, que representa o Vitória de Guimarães, depois de ter passado pelo Cluj, da Roménia. Foi depois da presença na final da competição da UEFA que o defesa assinou o primeiro contrato profissional, com o Desportivo de Chaves.

Colega de João Moutinho

Essa é também a esperança de vários dos jogadores da equipa de Braga, mas entre eles há um que sobressai pelo percurso como futebolista. Tiago Costa, defesa de 24 anos, que passou pela formação do FC Porto, foi campeão europeu de sub-17 ao lado de Moutinho e Miguel Veloso, por exemplo. Depois veio uma grave lesão que o impediu de assinar um contrato profissional pelos "dragões" e o levou a mudar-se para as divisões inferiores.

Em entrevista ao site da UEFA, diz sentir-se "capaz de jogar na I Divisão portuguesa". Aos colegas reconhece "qualidade suficiente para jogarem, por exemplo, na Liga Europa". O treinador Dito não vai tão longe, mas sabe que tem cinco ou seis jogadores com capacidade para fazerem parte "de plantéis da I Liga ou da II Liga". "A maioria deles está em perfeitas condições para melhorar as suas qualidades e capacidades. Basta, sobretudo, que possam trabalhar mais assiduamente, o que não acontece nestas divisões", acredita. Ganhar esta tarde pode ser o tónico que falta.