Pritzker 2011: A noite em que Obama elogiou Souto de Moura

Fotogaleria

Obama descreveu Souto de Moura como alguém que “nunca se satisfaz com soluções fáceis” e com “um estilo que parece tão espontâneo quanto é belo”. Destacou o Estádio de Braga – “talvez a mais famosa obra de Eduardo” –, notando que o arquitecto demoliu parte de uma montanha e sublinhando o princípio democrático da obra: “Ele teve o cuidado de posicionar o estádio de forma a que qualquer pessoa que não pudesse comprar bilhete conseguisse ver o jogo” do exterior.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Obama descreveu Souto de Moura como alguém que “nunca se satisfaz com soluções fáceis” e com “um estilo que parece tão espontâneo quanto é belo”. Destacou o Estádio de Braga – “talvez a mais famosa obra de Eduardo” –, notando que o arquitecto demoliu parte de uma montanha e sublinhando o princípio democrático da obra: “Ele teve o cuidado de posicionar o estádio de forma a que qualquer pessoa que não pudesse comprar bilhete conseguisse ver o jogo” do exterior.

Não foi a única empatia americana que Obama apontou em Souto de Moura, que comparou a Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos EUA e um homem apaixonado pela arquitectura. “Como Jefferson”, disse, Souto de Moura “puxou os limites da sua arte, mas fê-lo de uma forma que serve o bem comum”.

Nos 30 anos de existência do Pritzker, conhecido como o “Nobel da arquitectura”, foi apenas a segunda vez que um Presidente americano esteve presente na entrega do prémio. Em 1998, quando o italiano Renzo Piano foi distinguido numa cerimónia realizada na Casa Branca, Bill Clinton fez um discurso político e apenas aludiu brevemente ao laureado.

Obama, que falou durante cinco minutos, com Michelle Obama a seu lado, regressou à Casa Branca imediatamente após o discurso e já não se encontrava no Mellon Auditorium quando Eduardo Souto de Moura subiu ao palco para receber a medalha de bronze do Pritzker.

Ao aceitar o prémio, o arquitecto referiu-se à “crise social e económica” que se vive em Portugal, dizendo que “a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar”, em particular para África e outras economias emergentes.

Falando em português – com tradução simultânea para os cerca de 400 convidados –, Souto de Moura centrou-se sobretudo no seu percurso biográfico. Atribuiu a decisão de ser arquitecto a uma “crise agnóstica dos 15 anos”, em que duvidou “se Deus devia ter descansado ao sétimo dia” – frase que produziu risos na sala, ao retardador por causa da tradução.

Evocou a “experiência excepcional” de trabalhar com o mentor Siza Vieira no início da sua carreira, “não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si”.

Mencionou Mies van der Rohe, arquitecto do Movimento Moderno, referência maior da sua obra, como quem aponta a família a que pertence. E concluiu o discurso citando Herberto Helder. Foi breve, o que foi bem recebido pelos convidados. E o quarteto de cordas, num canto ao fundo da sala, retomou a música.

Entre os convidados: o actor Richard Gere, quatro anteriores laureados com o Pritzker –Frank Gehry, Rafael Moneo, Hans Hollein e Renzo Piano (que fez parte do júri que este ano escolheu Souto de Moura) – e o mayor de Chicago e ex-chefe de gabinete de Obama, Rahm Emanuel.