D. Georgina, a miraculada galega cuja cura permitiu a beatificação da Madre Maria Clara
Freira que no século XIX criou instituições de apoio aos mais pobres será beatificada sábado em Lisboa
Afirma Georgina Troncoso Monteagudo, e diz que disso atesta o processo médico, que sofreu de um pioderma gangrenoso durante 34 anos, entre 1969 e 2003. E afirma ainda que, de um dia para o outro, a 12 de Novembro de 2003, se sentiu curada de uma chaga que teimava em aumentar. Quem vê o seu braço direito confirma que por ali passou uma grande ferida.
"Para mim, é milagre da Madre Maria Clara", diz Georgina, hoje com 83 anos, natural de Baiona, Pontevedra (Espanha). Refere-se ela à fundadora das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, uma congregação religiosa criada em Lisboa em 3 de Maio de 1871. Maria Clara do menino Jesus será beatificada em Lisboa, no próximo sábado, depois de o Vaticano ter dado como não explicada cientificamente a cura de Georgina.
Quando se mostrou ao médico, logo após se ter sentido curada, este foi da mesma opinião. "Não tenho outra explicação", disse Ignacio do Carmo. É isso que a faz falar agora, dias antes da beatificação da religiosa por cuja intercessão se sentiu curada: "Dou publicamente graças a Deus porque me curou, por meio da Madre Maria Clara", disse ontem, a jornalistas, em Linda-a-Pastora (Oeiras).
A ferida cutânea de Georgina obrigava-a a tratamentos diários, desde 1969. Sábados e domingos incluídos. Era uma úlcera aberta, sem cura, disseram os médicos, depois de aparecer o que inicialmente se assemelhava a uma nódoa negra. Mas que rapidamente se converteu numa ferida. E que, além de exalar mau cheiro, obrigava diariamente a pôr um creme protector, que apenas retardava o avanço da úlcera. Mas que acabou por cobrir o braço e atingiu o seio.
Georgina ainda foi a Madrid, depois do diagnóstico de Vigo, consultar um dermatologista da Complutense. Este confirmou a opinião do colega de Vigo. "Nada pode curar, só se podem fazer enxertos para tentar aliviar um pouco", disse o médico de Madrid.
Georgina continuou a ir diariamente de Baiona a Vigo fazer o tratamento, intercalando enxertos de carne, a partir de 1971. Sem resultados.
A 21 de Junho de 2002, Ignacio do Carmo fez o último curativo. No dia seguinte, o médico foi internado com um tumor cerebral. Morreria dias depois. A paciente sentiu-se desamparada, conta ela. Decidiu então, com a ajuda das irmãs, Olga e Teresa, com quem vivia, ser ela a fazer o curativo. E confiou-se à oração através de Madre Clara, cujas seguidoras conhecia, da escola que frequentara.
Antes, o médico apoiara outra decisão: após o curativo, Georgina colocava uma estampa de Madre Clara entre as ligaduras e retirava-a antes do tratamento. Um dia, esqueceu-se. O médico viu e perguntou se era a freira a quem rezava. "Parece-me bem, temos de ter intercessores", disse.
A cura, repentina, veio em 2003. Quando tirou as ligaduras e viu o braço seco, chamou as irmãs, sem saber o que fazer. Não queria acreditar. Hoje, não tem dúvidas sobre a origem da cura. Graças a ela, a Igreja Católica proclamará em Lisboa, como nova beata, a santa "dos pobres por amor de Deus" que, em duas décadas, criou no século XIX centena e meia de instituições de apoio aos mais pobres da sociedade portuguesa.