Barack Obama recusa exibir fotografia de Bin Laden morto como "troféu"

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"Não existe qualquer dúvida de que o matámos", diz a presidência MARIO TAMA/afp

Casa Branca anunciou "decisão categórica" de não divulgar imagens do corpo do líder da Al-Qaeda, concluindo que não calaria cépticos e poderia incitar à violência

Dois dias e meio depois da operação que matou Osama Bin Laden, a Casa Branca anunciou que o Presidente Barack Obama decidiu não divulgar qualquer imagem do corpo do mentor da Al-Qaeda. A decisão é "categórica", disse ontem à tarde (noite em Lisboa) o porta-voz de Obama. O Presidente americano concluiu que a exibição de provas visuais "não faria qualquer diferença" no sentido de afastar dúvidas e teorias da conspiração sobre a morte de Bin Laden, e teria o potencial de "incitar mais violência" ou servir de "instrumento de propaganda".

"Não existe qualquer dúvida de que matámos Bin Laden", disse Obama citado pelo seu porta-voz, Jay Carney. "Não arvoramos estas coisas [fotografias] como troféus. Isso não é o que nós somos." O Presidente justificou a sua decisão numa entrevista à televisão CBS, gravada pouco antes da conferência. Carney leu transcrições da entrevista (que só foi transmitida à noite) antes de responder às perguntas dos jornalistas. Obama insistiu: "Nunca mais verão Bin Laden à face da Terra." E disse acreditar que "os americanos e as pessoas em todo o mundo estão felizes que ele tenha desaparecido".

A decisão foi tomada durante a manhã, informou Carney, numa altura em que a pressão pública em relação à questão tinha colocado a Casa Branca na defensiva. Uma entrevista do chefe da CIA, Leon Panetta, à NBC, na terça-feira à noite tinha aumentado as expectativas de que a Administração acabaria por divulgar imagens de Bin Laden como prova. "Não me parece que isso alguma vez tenha estado em causa", disse o director dos serviços secretos norte-americanos.

Questionado ontem sobre a discrepância das afirmações de Panetta, Carney limitou-se a dizer que "a decisão final ainda não tinha sido tomada" quando o chefe da CIA falou. O porta-voz da Casa Branca notou que Obama debateu a questão com a sua equipa de segurança nacional (incluindo os secretários de Estado e Defesa, chefes militares e dos serviços secretos), mas que "todos concordaram" com a decisão final.

"Não é do nosso interesse permitir que estas imagens se tornem ícones de sentimentos antiamericanos", argumentou o porta-voz.

Carney esclareceu que a administração não tenciona divulgar mais detalhes sobre as circunstâncias da morte de Bin Laden ou sobre o raide, porque isso poderia comprometer operações semelhantes no futuro. "Ainda não terminámos a nossa perseguição aos terroristas."

Para além disso, insistiu, a Casa Branca já divulgou "uma quantidade extraordinária de informação". "Vocês podem fazer perguntas", disse aos jornalistas que pediram esclarecimentos sobre a operação. "Mas já dissemos tudo o que podíamos dizer sobre a operação."

Legalidade questionada

A decisão de Obama surgiu num dia em que também começaram a despontar dúvidas sobre a legalidade da morte de Bin Laden.

Publicamente, a Casa Branca tem repetido que teria capturado Bin Laden vivo se a oportunidade tivesse surgido durante a operação, insistindo que ele foi morto porque "resistiu", apesar de não se encontrar armado.

Relatos na imprensa americana ontem indicam que matar Bin Laden - e não capturá-lo vivo - era o Plano A. O National Journal citou uma fonte oficial "com conhecimento" da operação dizendo que "a administração comunicou muito claramente" à chefia das forças especiais "que queria Bin Laden morto".

A Reuters noticiou ontem haver "um crescente desconforto" entre po- líticos europeus e defensores de direitos humanos sobre a legitimidade da operação.

"Não existe qualquer dúvida de que esta operação foi legal", afirmou Jay Carney. O porta-voz da Casa Branca explicou que a equipa de forças especiais que conduziu a missão "estava autorizada a matar Bin Laden se ele não se rendesse". "Nós agimos em autodefesa da nação." Na conferência de imprensa, Carney descreveu Bin Laden como um "assassino em massa".

No mesmo dia, o attorney-general (equivalente a ministro da Justiça) Eric Holder foi interrogado no Senado americano sobre a mesma questão e assegurou que a operação foi "completamente legal e coerente" com as leis e os valores americanos, e "um acto de legítima defesa nacional".

A imprensa americana revelou ontem que depois de terem matado Bin Laden, as forças especiais descobriram que ele tinha 500 euros em dinheiro consigo e dois números de telefone cosidos na roupa, o que sugere a existência de um plano de fuga.

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