Torne-se perito

William e Kate selaram com dois beijos o casamento do século

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O beijo na varanda de Buckingham ficará para a história, mas o ar zangado de Grace, uma afilhada de William, de três anos também (em cima); a família real em Westminster (à esquerda) e os noivos ns ruas de Londres (ao lado); o líder trabalhista, Ed Milliband, o líder liberal-democrata, Nick Clegg, e o primeiro-ministro conservador, David Cameron (ao lado, em baixo); a noiva à chegada a Westminster (em baixo) DYLAN MARTINEZ/REUTERS

"Beijo! Beijo! Beijo!", gritaram milhares de pessoas que aplaudiam o casal William e Kate à porta do Palácio de Buckingham. Só ficaram satisfeitas à segunda tentativa

Quando os aviões da Royal Air Force passaram por cima do Palácio de Buckingham houve aplausos e algumas lágrimas. O velho Lancaster da segunda Guerra Mundial é um avião tão robusto que, junto a um Spitfire e a um Hurricaine, fez o chão tremer.

Por que chora?, perguntou o PÚBLICO a uma das 500 mil pessoas que esperaram em frente ao palácio pelo grande momento: o beijo de William e Kate. "Oh, não são lágrimas", diz Grace, sorrindo e limpando os olhos molhados, "foi de olhar o céu por causa dos aviões." Talvez Grace chorasse de emoção por ver William e Kate, finalmente, na varanda do palácio selando com dois beijos o casamento do século no Reino Unido.

A Scotland Yard revelou que cerca de um milhão de pessoas esteve ontem em Londres para assistir ao cortejo do casamento real. A esse milhão ter-se-ão de acrescentar dois mil milhões de espectadores em todo o mundo.

No Mall, a avenida que liga Trafalgar ao Palácio de Buckingham, ladeada de grandes árvores e pelo St. James Park, milhares de famílias encostavam-se ao gradeamento. Também havia muitos jovens, pintando bandeiras nas bochechas, com máscaras de William e Kate, vestidos de noiva ou imitando o príncipe Carlos e Camilla. Foi um circo e uma grande festa. Há muito que a Union Jack (a bandeira do Reino Unido) não comunicava tanto patriotismo (o Guardian comentava ontem como o casamento foi "um momento de luz num ano cinzento"). E como o xadrez está na moda este ano, as mantinhas do piquenique, as camisas e as saias tipo kilt combinavam na perfeição com as cores da bandeira da nação.

Visto do solo, em frente ao Mall, o casamento real foi uma emocionante transmissão radiofónica no meio de uma multidão feliz e ordeira.

Sarah Walter, 47 anos, e a filha, Suzie, de 14, vieram para o Mall por acaso. Queriam ter ficado mais perto do palácio, mas a polícia já não as deixou passar. A partir das oito da manhã, várias entradas para o Mall já estavam encerradas.

Ali, sensivelmente a meio da avenida, abençoadas pela estátua da rainha mãe, mãe e filha (ou)viram o casamento de William e Kate, agora duque e duquesa de Cambridge. O Guardian comentava como Kate parecia uma princesa, mas nunca o seria, de facto, "porque, ao conferir o antigo título de duque de Cambridge ao seu neto horas apenas antes da cerimónia, a Rainha retirou à sua mulher a possibilidade de ser princesa Catherine".

A alegria de Suzie e Sarah

Os que chegaram cedo (e os que estiveram a acampar desde segunda-feira) tiveram direito a um dos periscópios oferecidos por vários patrocinadores e conseguiram ver passar as carruagens, com vista por cima da multidão. Sarah e Suzie queriam ter conseguido um, mas quando chegaram nessa manhã, vindas de Royal Tunbridge Wells, em Kent, já não estavam disponíveis. Em vez do periscópio, tinham uma cadeira de campismo, sobre a qual Suzie se elevava sempre que havia um cheers mais ruidoso face a quem passava no Mall.

Suzie estuda moda e têxteis na escola e quer ser designer: "Gostava de ter desenhado o vestido da Kate." Por isso, às dez horas fazia prognósticos: "Será cai-cai, com uma cauda grande, mas não tão grande como a da Diana, e cor de marfim, mas o mais importante será a renda. Aposto que terá umas luvas de renda."

Quando Kate Middleton entrou na igreja às 11h, muitos telefones saíram dos bolsos para ver o vestido na Internet. Suzie ligou ao pai, que ficou em casa a ver pela televisão. Acertou em quase tudo, sobretudo na renda. O seu contentamento era indescritível.

Sarah e Suzie são "grandes defensoras da família real". "Não compro as revistas, mas gosto da tradição e da história que eles representam", conta Sarah, que é mulher do pastor da paróquia local (na Igreja Anglicana, os padres podem casar-se).

Depois de ver a carruagem de Kate passar a poucos metros em direcção à Abadia de Westminster, Sarah conta como já esteve muito perto da família real. Primeiro, o seu pai é o bispo de Norfolk e celebrou uma vez a missa de Natal da família real em Sandringham. "Diana era viva; Wiliam e Harry ainda eram miúdos." Depois, porque o pai foi um dia condecorado pela Rainha, Sarah pôde visitar o Palácio de Buckingham. Em 2002, no Jubileu da rainha Isabel II, Sarah e Suzie estavam no País de Gales, a poucos metros da chefe de Estado. "Se tivesses levado um ramo de flores, podias ter conhecido a Rainha", diz a mãe à filha.

O programa do casamento foi distribuído por escuteiros à multidão. Quando a missa começou, o ar encheu-se com os cânticos vindos dos altifalantes. O povo aplaudiu, quando Kate disse ?"I will" e entoou com muita emoção o hino nacional. Sarah sabia os cânticos de memória, e cantava lindamente como se estivesse no coro da Abadia de Westminster. Disse com emoção: "Oh, o arcebispo tem uma voz tão bonita. Não trocava por nada estar aqui, a ouvir isto, e a ter de imaginar como tudo se passou."

Quando o coche de 1902 passou adiante, depois do meio-dia, o casal real acenava ao povo e Suzie ficou em êxtase. Foi tudo muito rápido. Deu para ver que William ia vestido de vermelho.

Depois de uma hora de grande espera sem sabermos bem para onde ir, a polícia arrastou o povo em direcção ao palácio. Tudo parecia encenado. A multidão expectante seguiu obediente as forças policiais. A cem metros dos portões dourados, em frente à estátua da rainha Vitória, Suzie eleva-se de novo sobre a sua cadeira e a multidão esperava impaciente pelos seus príncipes.

"Beijo! Beijo! Beijo!", gritou-se, quando o casal demorava a concretizar o que as televisões já haviam mostrado. E houve um primeiro beijo, chocho, e depois um mais vigoroso que deixou a multidão em delírio. Dali via-se mesmo tudo. "Ainda bem que viemos!", disse Suzie. "Nunca pensei poder ver isto de tão perto."

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