Raul Brandão é preciso

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O Bando regressa a um texto que já tinha abordado em 1996
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O Bando regressa a um texto que já tinha abordado em 1996

Quinze anos depois, O Bando regressa a A Morte do Palhaço. É um dos espectáculos da (A)Mostra que o S. João juntou, à atenção dos programadores estrangeiros

O momento é de revolta, diz João Brites, e é por isso que, 15 anos depois de se ter instalado pela primeira vez em Raul Brandão, O Bando regressa agora a A Morte do Palhaço, numa nova versão músico-cénica que pode ser vista desde anteontem no Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto. "É um texto que continua a apaixonar-me, e a música do José Mário Branco foi tocada muito poucas vezes. Apetecia, apetecia mesmo, voltar a ouvi-la", diz o encenador ao P2.

A música de José Mário Branco manteve-se, e é o grande vínculo deste espectáculo com a anterior versão de 1996. O resto, explica João Brites, é outra coisa, da cenografia de Nuno Carinhas às personagens interpretadas por Ana Brandão, Guilherme Noronha e Paulo Castro, passando pelo conjunto de cantores reunido sob a direcção musical de Jorge Salgueiro: "A primeira versão tinha um peso muito ligado à existência, à temática do suicídio; aqui optámos por fazer uma versão centrado no ritual do sacrifício que é indispensável para que a humanidade prossiga." O 25 de Abril não foi assim há tanto tempo, lemos nas entrelinhas: "A gente às vezes esquece-se de que devemos o que temos hoje, bem ou mal, a muitas pessoas que lutaram e a muitas pessoas que morreram." Nesse sentido, A Morte do Palhaço é para todos nós, revolucionários de bancada, para os que ficam a assistir no sofá, enquanto lá fora, no Portugal de Abril de 1974 ou na Síria de Abril de 2011, alguém faz o que tem de ser feito. "O mundo está sempre na expectativa de que alguém dê a cara, alguém se sacrifique - nesse sentido, somos todos um bocado oportunistas", continua João Brites.

Para venda

A nova versão de A Morte do Palhaço, que fica no Mosteiro de S. Bento da Vitória até 15 de Maio, é apenas um dos acontecimentos da (A)Mostra que o Teatro Nacional S. João (TNSJ), o Theatro Circo (Braga) e o Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) programaram, à atenção dos programadores internacionais expressamente convidados para o efeito, através da rede de contactos estabelecidos pelo S. João, enquanto membro efectivo da União dos Teatros da Europa. Até amanhã, os convidados do TNSJ poderão assistir a versões legendadas de espectáculos como Exactamente Antunes, encenação de Nuno Carinhas e Cristina Carvalhal a partir do Nome de Guerra de Almada Negreiros, Local Geographic, de Rui Horta, Concerto à La Carte, one woman show de Ana Bustorff produzido pela Companhia de Teatro de Braga, e Rua Gagarin, produção recente do Teatro Oficina.

Uma amostra para estrangeiro ver, e eventualmente comprar, já que estes espectáculos estão à venda, e particularmente disponíveis para apresentação internacional, diz Nuno Carinhas, o director do S. João: "Vamos mostrar o que temos a uma Europa alargada, numa altura em que Guimarães está em progressão para 2012, ano em que será Capital Europeia da Cultura." O catálogo editado para a (A)Mostra permite, de resto, que a (A)Mostra não se esgote neste fim-de-semana: "É uma edição bilingue que acompanha o evento e que funcionará como um excelente material de divulgação que pode viajar na mala dos agentes que cá estão e ser exportado para todo o lado."

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