O dia em que o Braga deixou o Liverpool a caminhar sozinho

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O jogo aéreo de Andy Carroll foi o único recurso atacante do Liverpool PAUL ELLIS/AFP

Depois do Celtic e do Sevilha, foi a vez de o colosso inglês cair de joelhos. Os minhotos nunca tinham chegado tão longe nas competições europeias

Domingos Paciência abraçado a Rui Casaca, Alan eufórico de braços no ar, Salino a atirar cumprimentos para as bancadas. Em Anfield, a festa foi do Sp. Braga, que furou todos os prognósticos e reforçou o estatuto de tomba-gigantes da Europa em casa de um monstro do futebol mundial. Bastou um empate (0-0), bastou uma grande defesa de Artur, bastou o grande pulmão de Vandinho. Graças aos minhotos (e ao FC Porto e ao Benfica), Portugal coloca pela primeira vez na história três representantes nos quartos-de-final de uma prova da UEFA.

À partida, era um duelo desigual. Golias contra David. Um plantel avaliado em 241,5 milhões de euros contra outro de 50,2 milhões. Um clube com cinco Ligas dos Campeões no palmarés (e três Taças UEFA + outras tantas Supertaças Europeias) contra o detentor de uma Taça Intertoto. Um gigante contra um tomba-gigantes. Ganhou o mais modesto, o mais coeso, o mais batalhador, o mais humilde.

A poção que o treinador Kenny Dalglish preparara para a noite de todas as decisões tinha poucos segredos: partir à procura de Andy Carroll. Como se de um peddy-paper se tratasse, os jogadores do Liverpool foram palmilhando terrreno, tentando por um lado, arriscando por outro. Mas encontraram sentidos proibidos em toda a parte. Na cabeça de Rodriguez, na serenidade de Hugo Viana, no apoio defensivo de Alan.

Carroll, o "senhor 40 milhões", ainda encontrou espaço para servir Joe Cole, aos 8", mas Artur estava lá. A partir daí, a defensiva bracarense foi empurrando o adversário para o seu meio-campo com a personalidade de quem sabe que nada tem a perder. Intervalo: cinco remates para os ingleses, sete para os portugueses, quatro cantos contra dois. Equilíbrio. A melodia de You"ll never walk alone abafada.

O 4-3-3 do Sp. Braga dava conta do 4-4-2 clássico do Liverpool e os raides de Sílvio pelo flanco esquerdo por vezes punham Glen Johnson em sentido. Um livre de Lima (55"), outro de Hugo Viana (71") também serviam de aviso. Tudo na mesma no segundo tempo. Os minhotos por cima. Até que Vandinho, enorme (regressou à equipa após lesão), deu o lugar a Kaká, também porque Dalglish apostou em Ngog para o ataque e em Spearing as alas.

Os primeiros três quartos do jogo tinham sido do Sp. Braga, o último quarto seria do Liverpool. Ngog tentou de fora da área (78"), Skrtel aproveitou uma posição de fora-de-jogo para proporcionar a defesa da noite a Artur (84"), Raul Meireles cruzou para a área e Ngog não chegou por milímetros. Já tinha começado a contagem final. 91, 92, 93, 94 minutos. Os reds já caminhavam sozinhos. O Sp. Braga estava pela primeira vez nos quartos-de-final de uma competição da UEFA.

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