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Japão vive a pior crise desde a II Guerra Mundial, diz o primeiro-ministro

As autoridades admitiram que a central de Fukushima poderia sofrer uma nova explosão, mas garantem que não teria um grave impacto na saúde pública

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O pior pesadelo: um sismo, um JIJI PRESS/AFP

Primeiro o sismo, depois o tsunami e de seguida um acidente nuclear. Com tudo isto, o Japão está a atravessar a pior crise desde a II Guerra Mundial, disse ontem o primeiro-ministro, Naoto Kan. A solução não está à vista: as autoridades temiam ontem uma nova explosão no reactor da central de Fukushima. O país tenta evitar uma "explosão nuclear descontrolada".

"Desde sexta-feira que não durmo por causa das réplicas" do sismo, contou à CNN Indri Rosid, que vive em Tóquio. "Agora tenho as centrais nucleares para me preocupar. Sabemos o que fazer quando vem um terramoto, mas o que devemos fazer com uma fuga de radioactividade? Ninguém nos ensinou o que fazer nestes casos".

Como Indri Rosid, milhares de japoneses temem uma catástrofe ainda pior que o terramoto e o tsunami.

O chefe do Governo admitiu ontem que a situação na central Fukushima I (240 quilómetros a norte de Tóquio) continuava "grave" depois de um alerta sobre a possibilidade de uma nova explosão, e apesar de a fuga de radioactividade estar supostamente sob controlo.

Foi num tom inevitavelmente grave, e invocando também a catástrofe de sexta-feira, que afirmou: "Dos 65 anos que passaram desde a II Guerra Mundial, esta é a crise mais dura e mais difícil para o Japão".

No sábado, uma explosão destruiu o edifício no interior do qual está o reactor 1 de Fukushima. Depois de horas de incerteza, as autoridades assumiram ontem que houve uma fusão no seu núcleo - uma situação que pode originar a libertação de radioactividade para o exterior.

O acidente provocou também danos no reactor 3, que, tal como o primeiro, estava com falhas de arrefecimento. "Correndo o risco de aumentar as preocupações da população, não podemos excluir uma explosão", afirmou à AP o ministro porta-voz do Governo, Yukio Edano. "Se houver uma explosão, no entanto, não haverá um impacto significativo na saúde humana".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros convocou ontem à noite uma reunião com todos os embaixadores em Tóquio para explicar as medidas que estão a ser tomadas de forma a impedir um desastre nuclear, noticiou o El País. A grande preocupação é evitar "uma explosão descontrolada" do invólucro metálico dos reactores - como aconteceu em Chernobil, na ex-URSS, em 1986, continua o diário espanhol. E, para isso, foi preciso libertar algum vapor radioactivo para a atmosfera, de forma a aliviar a pressão.

Três dos seis reactores da central, operada pela Tokyo Electric Power (Tepco), estavam a ser inundados com água do mar para evitar o aquecimento, uma solução que é vista como último recurso, já que provoca danos irreversíveis.



Radiação atinge 22 pessoas

Apesar das garantias de segurança, pelo menos 22 pessoas foram contaminadas pela radiação. As autoridades dizem que 190 pessoas estavam dentro de um raio de 10 quilómetros de distância quando a radiação subiu acima dos limites desejáveis. Da zona de Fukushima I já foram retiradas 210 mil pessoas.

Problemas semelhantes de aumento de pressão nos reactores estavam também a afectar a central Fukushima II. Cerca de 30 mil habitantes que viviam a dez quilómetros da estação tiveram de abandonar as suas casas.

O desastre de sábado foi classificado pela Agência de Segurança Nuclear e Industrial japonesa como nível 4 na Escala Internacional de Ocorrências Nucleares, que vai até 7 (o nível de Chernobil).

Mas os problemas com as centrais nucleares não acabaram aqui. A agência da ONU para o nuclear, a AIEA, adiantou que recebeu um aviso de emergência sobre outra central, mais a norte, em Onagawa. A agência japonesa negou, no entanto, que houvesse ali algum problema.

Outra central, a de Tokai (120 quilómetros a norte de Tóquio), estaria também com dificuldades de arrefecimento, segundo algumas agências noticiosas. Mas a Japan Atomic Power assegurou que o sistema estava a operar, embora dois dos três geradores eléctricos usados para manter a temperatura baixa estivessem fora de funcionamento.

O encerramento de Fukushima, e de várias centrais eléctricas, tornará ainda mais difícil garantir os fornecimentos de energia, avisou Kan, que pediu a compreensão da população.

"Passámos por muitas dificuldades no passado, mas conseguimos ultrapassá-las e chegar a esta sociedade pacífica e próspera que construímos", declarou, citado pela CNN. Por isso, em relação ao terramoto e ao tsunami, estou confiante que o povo japonês pode unir-se para trabalhar em conjunto... Peço-o a cada um de vós. Por favor, façam-no com determinação, e aprofundem os laços com a vossa família, vizinhos e as pessoas da vossa comunidade para ultrapassar esta crise para que o Japão possa ser um local melhor. Podemos fazê-lo juntos".

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