Exportações são o segredo do novo fôlego da fábrica de cerâmica das Caldas da Rainha

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Louça do Bordalo continua a inspirar a produção pedro cunha

Estados Unidos da América, França e Alemanha são os principais mercados da histórica empresa que esteve à beira da falência

Desde que as Faianças Bordalo Pinheiro foram compradas pelo grupo Visabeira, há dois anos, salvando a histórica empresa de uma falência iminente, as encomendas para o estrangeiro não têm parado de aumentar. O seu director, Vítor Gonçalves, diz que os resultados ainda não são positivos e que é necessário um incremento de mais 50 por cento nas vendas para se sair do vermelho, mas ficaram para trás os tempos conturbados dos salários em atraso e do risco de todo o património de Bordalo Pinheiro se perder.

Os novos patrões apostaram "em novos produtos, mais apelativos, mas sem esquecer as linhas tradicionais bordalianas", explica Vítor Gonçalves, que dá o exemplo dos típicos bonecos em movimento criados pelo ceramista no seu tempo, mas que agora aparecem com personalidades notáveis do séc. XXI.

"A louça de Bordalo é muito mais do que o Zé Povinho e a couve", diz o director. "Esquecer esses produtos seria um erro, mas temos que inovar, tirando partido da tradição e da história de Bordalo, o que nos tem proporcionado perspectivas optimistas, sobretudo no mercado europeu e no dos Estados Unidos".

São também os Estados Unidos e a França que têm "puxado" pela Molde, uma fábrica de faianças caldense, que chegou a ter pessoal em casa ao abrigo do lay off e que agora acaba de contratar mais 30 trabalhadores para fazer face a um pico de encomendas.

"No primeiro semestre de 2010 crescemos 60 por cento face ao período homólogo anterior e desde Outubro o ritmo de produção é quatro vezes superior ao de 2009". Joaquim Beato, administrador da empresa, diz que fechou o ano com uma facturação de 1,9 milhões de euros e lucros que são quase simbólicos (12 mil euros), mas que representam uma melhoria brutal face ao período negro vivido há dois anos.

Esta empresa caldense exporta praticamente cem por cento da sua produção, limitando-se a comercializar em Portugal alguns trabalhos de azulejaria de grande qualidade. Joaquim Beato só lamenta que o mercado inglês ainda se mantenha meio parado, mas para a França e para o outro lado do Atlântico não têm faltado encomendas. O maior problema, queixa-se, é a restrição ao crédito, coisa que é fundamental para as pequenas e médias empresas. "Não conseguimos financiamento e quanto mais encomendas temos, mais necessitamos de fundo de maneio", diz, lamentando que os bancos lhes tenham voltado as costas.

Resultado: até Junho do ano passado ainda havia salários em atraso porque só se podia pagar ao pessoal quando vinha o cheque do cliente. "Felizmente que entretanto retomámos o prestígio de outrora e temos conseguido diminuir os prazos dos pagamentos", explica Joaquim Beato. "Já aconteceu termos ainda o contentor no Porto de Lisboa e estarmos a emitir a factura e o cliente já nos estar a pagar".

O acesso ao crédito é também a principal dificuldade da Olfaire - Mendes & Nicolau, Lda., que emprega 20 trabalhadores e que acumulou 200 mil euros de prejuízos nos últimos quatro anos para uma facturação, durante esse período, de 1,7 milhões de euros.

Franceses em força

"Sangue, suor e lágrimas" é a fórmula do seu proprietário, Fernando Nicolau, que herdou a fábrica dos seus tios. Longe vão os loucos anos oitenta em que toda as cerâmicas ganhavam dinheiro com a exportação (e graças também à preciosa ajuda da desvalorização do escudo), mas a retoma nos Estados Unidos e na França (e mais recentemente no Canadá) põem este empresário com um relativo à- vontade.

"Os franceses voltaram em força porque foram os nossos compradores de sempre. Têm uma apetência por este tipo de loiça [também muito inspirada no estilo bordaliano], própria para as casas de campo... a arte de la table", diz Fernando Nicolau.

"E para os americanos, tudo o que venha da Europa e tenha um cheirinho a História, a passado e a tradição, é-lhes bem vindo. Aliás, temos clientes que nos pedem uma resenha histórica de algumas peças porque isso acrescenta valor ao produto".

Esta empresa exporta 99,9 por cento da sua produção, explica o seu administrador, que tem sentido um aumento das encomendas por parte dos importadores. Mas lamenta igualmente a indisponibilidade dos bancos com o crédito, o que já o levou a alienar algum património pessoal para que a Mendes & Nicolau não fosse mais uma das inúmeras cerâmicas da região que foram à falência.

Por outro lado, as boas notícias das novas encomendas resvalam com as más notícias do aumento dos custos de energia (fundamentais no sector cerâmico devido à forte utilização dos fornos) e do próprio cobre (necessário para as peças vidradas), que aumentou subitamente de 12,50 euros para 16,50 euros o quilo.

Apesar das exportações, o futuro não se avizinha fácil, diz Fernando Nicolau.

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