Um "Fenómeno" de nome Ronaldo anunciou a sua "primeira morte"

Terminou uma carreira cheia de golos e títulos. Ganhou duas Bolas de Ouro, três Prémios FIFA e dois Mundiais. Só a doença o derrotou

Figueiredo teve ontem um dia tão atarefado como o de Ronaldo. O actual treinador adjunto de Daúto Faquirá no Olhanense não parou de atender telefonemas, muitos vindos do Brasil. O antigo guarda-redes está ligado à vida profissional do avançado brasileiro: foi ele que sofreu o primeiro dos 414 golos que o avançado marcou enquanto profissional. Foi a 5 de Agosto de 1993, Ronaldo tinha 16 anos no particular no Restelo entre o Belenenses e o Cruzeiro. Ontem, aos 34 anos, anunciou o fim da carreira, derrotado pela doença, hipotiroidismo, um distúrbio que o impede de controlar o peso.

Há 18 anos, voltou da excursão por Portugal despertando o interesse de vários clubes. O Cruzeiro recebeu a primeira sondagem do Inter de Milão, recusada mesmo com uma proposta de 500 mil dólares (o que significava uma valorização de mil por cento em cinco meses no clube). O clube preferiu apostar no jogador. E acertou. Era o início de uma carreira gloriosa. Em pouco tempo, Ronaldo teria o mundo a seus pés, ganharia a alcunha de "Fenómeno", conquistaria títulos, seria eleito três vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA e iria consagrar-se como o melhor marcador em fases finais de Mundiais (15 golos, à frente de Muller e Pelé).

Ronaldo Luiz Nazário de Lima ganhou o nome da homenagem feita ao médico Ronaldo Valente, que foi a casa buscar a mãe, Dona Sônia, vendedora de gelados, no dia 18 de Setembro de 1976 e a levou para o Hospital de São Francisco Xavier, em Itaguaí, para o parto. Era mau aluno, gozado pelos colegas pelos seus dentes à castor e fugia para jogar à bola. Aí tinham-lhe respeito. Começou como guarda-redes, mas uma experiência como avançado terminou com a espera: era um goleador nato. Passou pelos melhores clubes do mundo: PSV, Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid e Milan. Começou no Cruzeiro e acabou no Corinthians. Aqui chorou, quando ontem, na sede do clube, anunciou o adeus ao futebol, perante 400 jornalistas. "É a minha primeira morte", disse.

Escravo das lesões

"Há quatro anos, no Milan, descobri que sofria de uma doença que se chama hipotiroidismo, um distúrbio que desacelera o seu metabolismo. Para controlar isso, teria que tomar umas hormonas que, no futebol, seriam doping. Então, muitos aqui devem estar arrependidos de terem feito chacota do meu peso, mas não guardo mágoa de ninguém. Só queria explicar isso no último dia da minha carreira", revelou Ronaldo. "Perdi para o meu corpo".

Mas só à terceira perderia para as lesões. Para trás ficaram duas recuperações longuíssimas nos tempos do Milan (em 2000) e do Inter (2007). O PSV deixou-o ir em 1996 para o Barcelona convencido de que os seus joelhos eram de cristal perante a sua explosividade durante o jogo e o seu físico portentoso. Custava-lhe treinar o suficiente para queimar tudo o que comia e, como se descobriu em Milão, tinha sérios problemas hormonais. Foi escravo das lesões e dos dois primeiros empresários: Pitta e Martins acabaram ambos na prisão. À parte disso, deixa o futebol como um dos maiores.

Retirou-se depois de quase duas décadas nos mais brilhantes palcos do futebol, depois de muitos golos, jogadas vertiginosas. "Os que me criticaram fizeram-me mais forte", disse ao lado do seu filho mais novo.

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