Torne-se perito

Presidente do grupo de fiscalização das contas públicas certificou contas irregulares do BPP

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O BPP está em fase de liquidação e há processos judiciais em curso DANIEL ROCHA

António Pinto Barbosa presidiu durante 10 anos ao conselho fiscal do banco insolvente, liderado por João Rendeiro. Validou as contas até ao último relatório

O presidente do recém-nomeado grupo de trabalho para criar a comissão encarregada de fiscalizar as contas públicas, António Pinto Barbosa, certificou durante cerca de dez anos as contas do Banco Privado Português (BPP), que foi intervencionado no final de 2008 pelo Banco de Portugal, para evitar a sua insolvência imediata. Esta iniciativa revelou um conjunto de irregularidades e de ilicitudes nas contas da instituição - estavam fora do balanço mais de 1,2 mil milhões de euros - o que levou o Banco de Portugal, a CMVM e o Ministério Público a iniciarem as investigações em curso.

A indicação do economista Pinto Barbosa para liderar o órgão que vai fiscalizar as contas públicas do país partiu do PSD e surpreende na medida em que não detectou, enquanto presidente do conselho fiscal do BPP, quaisquer irregularidades nas contas do banco. Pinto Barbosa sairia da instituição quando João Rendeiro foi obrigado pelo Banco de Portugal a rescindir.

O PÚBLICO tentou contactar Pinto Barbosa na faculdade onde dá aulas, mas não foi possível. O PSD não quis comentar o assunto.

Nas últimas contas do BPP certificadas por Pinto Barbosa, no parecer do conselho fiscal a que presidia, este assegura aos accionistas que as "demonstrações financeiras supra-referidas e o relatório de gestão, bem como a proposta nele expressa, estão de acordo com as disposições contabilísticas e estatutárias aplicáveis, pelo que poderão" ser aprovadas pela reunião magna.

BPP em liquidação

O conselho fiscal informa ainda os accionistas do BPP que valida "a regularidade dos seus registos contabilísticos e o cumprimento dos estatutos" e diz que recebeu quer da administração, liderada por João Rendeiro, quer "dos diversos serviços do banco, todas as informações e esclarecimentos solicitados".

Para além do economista, fundador do PSD, integram ainda o grupo de trabalho que vai monitorizar o cumprimento das contas públicas João Loureiro e uma administradora do Banco de Portugal (BdP), Teodora Cardoso.

Recorde-se que o BdP detectou irregularidades nas contas do BPP no período em que Pinto Barbosa certificou os números do banco enviados para o supervisor validar.

O BPP está em fase de liquidação e a instituição, bem como os dirigentes dos seus órgãos sociais, são alvo de um conjunto de processos judiciais desencadeados pelos clientes que se consideram lesados pela gestão de João Rendeiro, mas também pela equipa nomeada pelo BdP, após a intervenção, encabeçada por Adão da Fonseca, que alegam que não defendeu os seus interesses.

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