Clooney apresenta "paparazzi antigenocídio" no Sudão

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Clooney à saída da Casa Branca, onde apresentou o projecto a Obama Olivier Douliery/MCT

Satélites vão observar movimentos suspeitos de pessoas e registar a informação em vésperas do referendo à divisão entre Norte e Sul do país

A associação parece insólita - junta um actor de Hollywood, George Clooney, a ONU, a Google e a Universidade de Harvard. A ideia também é inovadora: "observar" um país com satélites para ver se há violações dos direitos humanos.

A iniciativa-experiência chama-se Satellite Sentinel Project e pretende ser um "sistema de aviso prévio" para violações de direitos humanos antes do referendo de 9 de Janeiro no Sudão, em que será votada a divisão entre o Norte e Sul do país. A consulta - prevista pelo acordo de paz que em 2005 pôs fim a décadas de guerra civil - deverá conduzir a uma efectiva separação da região meridional, rica em petróleo. Igualmente previsível é um aumento da violência, antes e durante a votação, o que levou a ONU e os Estados Unidos a comunicarem as suas preocupações ao Governo de Cartum.

"Somos os paparazzi antigenocídio", descreveu o actor à revista norte-americana Time. "Queremos que eles tenham o nível de atenção de uma celebridade que eu normalmente tenho. Se sabemos que as nossas acções vão ser seguidas pela imprensa, tendemos a comportar-nos de modo muito diferente do que quando operamos num vácuo", disse ainda Clooney, que desde 2006 esteve quatro vezes no Sudão.

No site www.satsentinel.org, que está a funcionar desde ontem, o actor explica que antes o Governo de Cartum podia negar que não estava envolvido nos massacres porque não havia fotógrafos a registar o que se passava no terreno. Agora, essa hipótese desaparece.

Os satélites documentarão aldeias queimadas ou bombardeadas, movimentos de pessoas em massa ou outras provas de violência. O programa das Nações Unidas UNOSAT vai recolher e analisar as imagens, com mais investigação e análise da Iniciativa Humanitária da Universidade de Harvard. A Google e a Tellon Llc, uma empresa de desenvolvimento de Internet, criaram uma plataforma para acesso público à informação.

O projecto tem verbas dadas pela organização Not On Our Watch, que, para além de Clooney, inclui estrelas de Hollywood como Brad Pitt ou Matt Damon e que tem sido activo na região recolhendo verbas para ajudar os muitos deslocados na zona do Darfur, no Oeste do Sudão, região flagelada por uma guerra e um genocídio. Estas verbas serão suficientes para seis meses de funcionamento do projecto.

No site, Clooney e John Prendergast, outro fundador do projecto, destacam a singularidade da iniciativa: "Nunca houve um esforço sustentado para monitorizar sistematicamente potenciais pontos problemáticos e ameaças à segurança humana, quase em tempo real, com o objectivo de evitar desastres humanitários e crimes de guerra antes de eles ocorrerem."

À Time, Clooney disse que acha que este projecto pode ser replicado noutros locais. "É como se estivéssemos em 1943 e tivéssemos uma câmara dentro de Auschwitz."

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