Engenheiros querem classificar Ponte da Arrábida para travar edifício na marginal

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A construção da Ponte da Arrábida foi concluída em 1963 paulo ricca

Edifício com trinta metros de altura resulta de pedido de informação prévia assinado por Nuno Cardoso há oito anos. APDL considera que terrenos em causa são do domínio público

O director da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Sebastião Feyo Azevedo, e o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, são os primeiros subscritores de um abaixo-assinado ontem lançado com o objectivo de apoiar o processo de classificação da Ponte da Arrábida, no Porto, como monumento nacional. O procedimento, promovido pelo director do Departamento de Engenharia Civil da FEUP, Manuel Matos Fernandes, já está em curso e tem como objectivo confesso e imediato travar a construção de um edifício com trinta metros de altura na marginal direita do Douro.

"Temos uma opinião negativa e muito crítica sobre este edifício, mas admito que haja outras opiniões e que, por isso, deve ser o Igespar a pro- nunciar-se, porque é a única entidade com competência técnica e política para avaliar um projecto destes", disse ontem, em conferência de imprensa, Manuel Matos Fernandes, defendendo, assim, a necessidade de a Ponte da Arrábida ser classificada com "carácter de urgência".

O pedido de classificação, refira-se, deu entrada nos serviços da Direcção Regional de Cultura do Norte a 2 de Agosto, tendo esta entidade dado parecer favorável e remetido o processo para o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), que procedeu já à abertura do respectivo procedimento de classificação. O Igespar tem agora um ano para se pronunciar, mas os promotores da iniciativa esperam que o facto de o processo estar em cur- so permita criar, entretanto, um regi- me de protecção que obrigue o projecto em análise na Câmara do Porto a ser submetido à apreciação do instituto.

O pedido de classificação da ponte assenta em motivos técnicos, históricos e simbólicos (ver caixa), incluindo ainda a chamada Casa da Ponte, um edifício construído de raiz há cinquenta anos, sobre o rio, para ser o escritório dos engenheiros responsáveis pela construção da travessia. É precisamente diante dele que deverá nascer o empreendimento que a Câmara do Porto está a apreciar.

O projecto em causa diz respeito a um edifício de trinta metros de altura, relativamente a cujos impactes os serviços da FEUP fizeram um estudo que foi já enviado para o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto.

Questionada ontem, via e-mail, sobre o estado de tramitação deste pro- cesso urbanístico, a Câmara do Porto recorda que o mesmo resulta de uma decisão tomada pelo anterior presidente da autarquia, Nuno Cardoso, "em 7 de Janeiro de 2002 (no dia anterior à tomada de posse do actual presidente)", a qual previa quatro torres de 14 pisos. Após negociação posterior, "foi possível chegar a acordo para a substituição dessas torres por dois edifícios mais baixos [nove pisos, um dos quais já construído], que permitem libertar a encosta envolvente", esclarece a edilidade, segun- do a qual um eventual chumbo do projecto obrigará ao pagamento de uma indemnização de "muitos, muitos milhares de euros".

O gabinete de imprensa acrescentou que a câmara recebeu, entretanto, um ofício assinado pelo presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), João Pedro Matos Fernandes, entendendo que "os referidos terrenos são do domínio público e estão na área de jurisdição da APDL", pelo que "não poderiam ter sido objecto de qualquer decisão por parte da Câmara do Porto, e que, muito menos, lá pode ser construído o que quer quer seja sem o consentimento da APDL". "Essa matéria está, neste momento, pendente", indica a autarquia, segundo a qual "a Ponte da Arrábida é, por direito próprio, um monumento nacional".

O abaixo-assinado ontem lançado está disponível através do site da Ordem dos Engenheiros ou no endereço http://www.ipetitions.com/petition/Ponte_da_Arrabida_a_Monumento_Nacional/.

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