O Porto não vive sem reabilitação

O Porto só se manterá vivo se conseguir preencher o espaço vazio desse grande donut em que a cidade se transformou com a progressiva mudança de habitantes para uma periferia mais económica e pintada de fresco. Rui Moreira sabe que o repovoamento da cidade é uma causa política, imprescindível para que o centro histórico deixe de ser o que é: um monumento decrépito e, ainda por cima, oco. Espera-se, e acredita-se, que a escolha de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto há quase dez anos, para a presidência da Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana, em substituição de Arlindo Cunha, se traduza em maior dinamismo numa tarefa absolutamente crucial para o futuro da cidade.

A SRU tem entre mãos a recuperação de 32 quarteirões, a maior parte dos quais, como não poderia deixar de ser, na zona histórica do Porto, aquela que mais importa reabilitar, e cuja conclusão mudará a fisionomia da cidade. Mas o lento trabalho de reabilitação da SRU, quarteirão a quarteirão, está particularmente vocacionado para responder à procura de investimento de grandes empresas, interessadas na compra e recuperação de grandes áreas. O cidadão que individualmente recorra à SRU na tentativa de encontrar ajuda na procura de uma casa da zona histórica para recuperar é recambiado para as mesmíssimas imobiliárias às quais é possível aceder através de um anúncio num jornal ou de um classificado na Internet. E corre igualmente o risco de não ser informado sobre algumas das regalias que existem para quem adquira casa no perímetro de intervenção prioritária da cidade, que tanto podem implicar a devolução ou o reembolso do IMI ou do IMT, pela simples razão de que é insuficiente a articulação entre os serviços camarários e a SRU. E a reabilitação urbana mais visível na cidade foi a que resultou da intervenção da Porto 2001 ou da reabilitação individual, casa a casa, que acabou por ter um efeito mimético em algumas ruas, como aconteceu, quando os terrenos eram bem mais acessíveis, na Rua do Bonjardim, junto ao Marquês.

Como PSD e FCP não têm falta de interessados nas candidaturas à presidência da câmara e do clube, Rui Moreira pode ser bem mais útil à cidade. Se há algo de verdadeiramente estratégico para o Porto, aparentemente na moda, ao ponto de figurar como sugestão de luxuoso fim-de-semana na superexclusiva How to spendt it do Finantial Times, é a sua reabilitação urbana, histórica e cívica.

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