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Columbano, republicano e íntimo, volta ao Chiado

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Auto-Retrato Inacabado dr

Mestre do retrato, Columbano foi o pintor da República. A nova exposição mostra como

Na parede de uma das salas da exposição Columbano, que foi ontem inaugurada no Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, está um excerto de uma carta que o pintor Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) escreveu a Francisco Vilaça, em 1886, em que conta que trabalha todos os dias e assim se distrai, sozinho, em silêncio, expondo os trabalhos para si próprio. "Hei-de acabar, creio, por ser o único admirador da minha obra", escrevia.

Nada mais errado. Esta exposição, que reúne 75 obras daquele que é considerado "o maior pintor português do século XIX" e que foi ainda director do Museu do Chiado, de 1914 a 1929, é a segunda parte do projecto iniciado neste museu em 2007. Nesse ano realizou-se uma retrospectiva de Columbano que mostrou obras produzidas entre 1874 e 1900 e que celebrou os 150 anos do seu nascimento. Agora, no encerramento das comemorações do centenário da República, mostra-se a sua pintura de 1900 a 1929, com destaque para os retratos de figuras portuguesas na viragem do século XIX - Antero de Quental, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Bulhão Pato, Batalha Reis, Teixeira Gomes, Raul Brandão ou Teixeira de Pascoaes - que mostram como Columbano conseguiu captar as transformações mais significativas da sociedade portuguesa dessa época, e para as naturezas-mortas, reflexo de uma pintura intimista.

Columbano é o autor dos três retratos oficiais dos primeiros Presidentes da República e fez parte da comissão que em 1910 escolheu a nova bandeira. Mas Columbano inclui ainda pintura decorativa que fez para o Palácio de Belém e para a Quinta do Beau Séjour, e os célebres auto-retratos: o de 1927, que pertence à colecção da Galeria dos Uffizi, em Florença, e também o de 1929, que deixou inacabado (ia acrescentar na tela a figura da sua mulher, quando morreu).

Algumas obras exibidas há três anos no Museu do Chiado aparecem de novo na primeira sala desta exposição - Concerto de Amadores (1882), A Luva Cinzenta (1881), O Grupo do Leão (1885) e Retrato de Antero de Quental (1889) - e funcionam como pontos de referência. "Estas obras situam-se entre uma pintura de retrato e uma pintura intimista que são as linhas fundamentais que vai desenvolver a partir de 1900 e que se vêem nas salas seguintes", explicou a comissária da exposição, Maria de Aires Silveira, durante a apresentação da exposição.

Há quadros que nunca tinham sido vistos desde exposições de 1928, como o Retrato de Viana de Carvalho e Sua Filha (1928) e o Retrato de António Correia de Oliveira (1918). Na sala dedicada ao intimismo, com obras pintadas em recantos da sua própria casa, onde aparece a sua mulher, Emília, e também naturezas-mortas, pode ver-se a obra Femme et Fruits (1899), doada pelo pintor ao Museu do Luxemburgo e que pertence hoje ao Museu d"Orsay, em Paris, e faz parte desses núcleo de quadros pouco vistos.

Algumas obras ofereciam dúvidas relativamente aos processos de trabalho e, por isso, uma das salas desta exposição é dedicada ao estudo laboratorial da pintura de Columbano. Foi pedido ao Instituto dos Museus e da Conservação que estudasse o Retrato de Rafael Bordalo Pinheiro onde apareciam duas assinaturas, confirmando-se que o quadro foi repintado. O mesmo aconteceu com Cristo Crucificado, obra que foi alterada ao longo de 15 anos. Mas o mais surpreendente aconteceu no quadro Frutos de Outono, uma tela de carácter intimista onde apareceu outra pintura subjacente. "Ele faz uns esboços de Cristo, eventualmente de um calvário, e de algumas figuras e depois pintou uma obra completamente diferente, uma natureza-morta, e a figura da mulher, escondendo tudo o resto", explica a comissária.

Na inauguração da exposição foi lançado o catálogo Columbano e o primeiro volume do catálogo da colecção do Museu do Chiado, Arte Portuguesa do Século XIX - 1850-1910. Os dois livros resultam de um protocolo entre o Museu Nacional de Arte Contemporânea e o grupo Leya. Já este mês, estará disponível a BD O Grupo do Leão, com texto de Rui Zink e ilustração de António Jorge Gonçalves. A exposição Columbano fecha a 27 de Março do próximo ano.

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