Medicamento para emagrecer terá morto pelo menos 500 pessoas em França ao longo de três décadas

Mediator é aparentado com outros redutores do apetite já retirados do mercado; causa problemas cardíacos

Pelo menos 500 pessoas terão morrido em França durante os mais de 30 anos em que esteve à venda o Mediator, um medicamento coadjuvante da diabetes, que era também usado por muitas pessoas que apenas tinham excesso de peso e queriam controlar o apetite. Mas, mais do que uma tragédia, esta é a história de um escândalo que revela uma inacção quase inacreditável.

Estes números, divulgados pela agência nacional do medicamento, são uma estimativa de um estudo feito já a pensar num possível processo judicial contra o laboratório que fabricava o medicamento, o Servier (o segundo maior grupo farmacêutico francês). A droga foi retirada em França e em Portugal em Novembro de 2009.

O estudo, divulgado ontem pelo novo ministro da Saúde, Xavier Bertrand, passou em revista a história das 303 mil pessoas que tomavam Mediator (220 mil das quais mulheres) a partir de 2006. Não foi possível ir mais atrás porque os ficheiros médicos são apagados após três anos, explica o jornal Le Figaro.

Foram registadas 64 mortes, com uma taxa de mortalidade dos pacientes hospitalizados de um por cento. O risco de complicações graves seria na ordem de 0,5 casos por cada mil pessoas.

Mas o que espanta é que o princípio activo do Mediator, o benfluorex, não era uma molécula nova, de que se sabia pouco. Sabia-se que era um derivado da fenfluramina, parte da mistura que ficou conhecida como "fen-phen", usada para controlar o apetite, e que foi retirada do mercado em 1997, e também da dexfenfluramina, vendida sob o nome Redux nos EUA e Isoméride na Europa (também pela Servier), igualmente retirado.

O Mediator, vendido desde 1976, era um inibidor do apetite que ajudava a reduzir o colesterol e a controlar os níveis glicémicos. Além de quimicamente semelhante aos medicamentos já retirados, as indicações eram idênticas, o que poderia ter feito tinir algumas campainhas de alarme.

Mas foram sobretudo os estudos da equipa da médica Irène Frachon, do Centro Hospital de Brest, publicados em 2009 e 2010, que demonstraram que o benfluorex, tal como a fenfluramina, provoca deformações das válvulas cardíacas, que levam à morte.

Frachon escreveu entretanto um livro sobre o seu trabalho, publicado em Junho, chamado Mediator, quantos mortos?, do qual foi obrigada a tirar as palavras "quantos mortos?", por ordem do tribunal, após queixa da farmacêutica. A médica falava apenas em cinco mortes confirmadas.

Sugerir correcção