Uma escola criada por empresas onde os alunos não têm problemas de emprego

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Maioria dos alunos da escola de Sines tem oferta de emprego ANTONIO CARRAPATO

Fundada há 20 anos, a Escola Tecnológica do Litoral Alentejano foi pioneira no ensino profissional em Portugal. Aqui são os empregadores que lhes batem directamente à porta

Entram no laboratório de Análises Químicas fardados, uns com batas brancas e outros com fato de trabalho azul. Em comum, o nome do estabelecimento de ensino bordado nas costas: Escola Tecnológica do Litoral Alentejano (ETLA). O estabelecimento de ensino acaba de celebrar 20 anos e fica em Sines, à entrada da vila, em plena zona industrial. Foi criado por empresas e os seus alunos, garantem os responsáveis, não têm de procurar muito até assegurarem o primeiro emprego.

A professora Alexandra Silva acolhe os alunos do 12.º ano do curso de Mecatrónica com alguma familiaridade. A uns endireita-lhes as golas, a outros abotoa algum botão esquecido. Estão todos prontos para aprender como se faz a destilação, uma técnica importante que pode ser usada na refinaria, que está paredes-meias com a escola, lembra a docente de Física e Química. Os rapazes juntam-se à volta da docente, que explica as fases da destilação. O desafio é fazer a montagem dos instrumentos e destilar vinho, mas todo o processo poderia ser feito com petróleo. Aliás, é isso que se espera de alguns destes jovens, num futuro próximo.

A escola prepara os alunos para o mercado de trabalho e a maioria tem saídas profissionais e ofertas de emprego mal termina a formação, assegura o director da ETLA, Joaquim Marques. Cerca de 35 por cento continuam para o ensino superior. "Quando os empregadores nos pedem diplomados, não temos ou não temos os melhores, porque esses prosseguem os estudos", revela. Muitos tentam conciliar o superior com o primeiro emprego; outros começam a trabalhar e depois entram no superior; e há ainda quem, não tendo terminado o curso, se comprometa a fazê-lo e entre no mercado de trabalho, acrescenta Joaquim Marques. "Há cursos em que os pedidos são mais do que os diplomados", diz. Um exemplo é o curso de Química Tecnológica. O mercado não precisa de engenheiros, mas de técnicos, reforça.

Noutra ponta da escola, nas oficinas, o professor Ferreira Dias, um decano da ETLA, ensina com a mão na massa - ou melhor, nas roscas e noutras ferragens. O objectivo é que os alunos do 1.º ano de Electrónica, Automação e Instrumentação - na turma há uma única rapariga - aprendam as medidas quer em metros, quer em polegadas. É preciso fazer contas e o professor distribui os alunos por grupos de três, passa-lhes para as mãos roscas e lâminas de medição. Agora ainda estão no princípio, mas em três anos farão os projectos de final de curso e poderão construir equipamentos que ficarão na oficina da escola ou mesmo karts de competição, como já aconteceu com uma turma.

A ETLA nasceu, como muitas escolas profissionais, depois da publicação, em 1989, do decreto-lei que possibilitou a abertura deste tipo de ensino. A escola surgiu um ano depois, nas instalações da antiga Companhia Nacional de Petroquímica, quando esta foi vendida a uma empresa finlandesa, a Neste.

"Foram os finlandeses que trouxeram a ideia da responsabilidade social e de fazer uma escola de ensino profissional", recorda Joaquim Marques, à frente do projecto desde então. Actualmente, a ETLA tem como entidades associadas os municípios de Sines e de Santiago do Cacém e várias empresas da região.

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