Líderes da UE acalmam mercados e adiam FMI

Notícias de que a Irlanda já estaria a negociar o acesso ao fundo da UE e FMI foram desmentidas

Depois da escalada do dia anterior nas taxas de juro da Irlanda, os responsáveis políticos da União Europeia voltaram ontem a accionar os sinais de alarme, emitindo um comunicado para acalmar os investidores e respondendo rapidamente aos rumores crescentes de um recurso ao fundo de emergência por parte da Irlanda. Coincidência ou não, o dia de ontem foi de descida das taxas de juro da dívida pública, principalmente da irlandesa, mas também de Portugal.

"O Estado está inteiramente financiado até ao próximo mês de Junho e temos reservas importantes", afirmou Brian Lenihan, ministro irlandês das Finanças, à rádio nacional RTE. Em consequência, a Irlanda "não está de modo algum em situação de pedir ajuda" do fundo europeu de estabilização financeira (EFSF), precisou, referindo-se ao mecanismo criado em Maio pela eurolândia para ajudar os países em dificuldade de financiamento.

"A questão não foi colocada" pelo Governo irlandês, afirmou, por seu lado, Jean-Claude Juncker, primeiro- ministro do Luxemburgo e presidente do eurogrupo dos países da moeda única, enquanto a Comissão Europeia garantiu que não recebeu "qualquer pedido do Governo irlandês para qualquer tipo de apoio financeiro", segundo afirmou um porta-voz.

O chefe do Governo luxemburguês não excluiu, no entanto, a existência de contactos entre Dublin e as outras capitais. "Como se trata de contactos com os seus colegas, não são públicos", afirmou, citado pelas agências noticiosas, embora garantindo que "não está nada de grave a caminho".

Estas posições foram assumidas depois de os ministros das Finanças de cinco países - França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha - se terem visto forçados a sair a terreiro para sossegar os mercados, deixando claro que a preocupação com a subida das taxas de juro da Irlanda e de Portugal e o risco de uma nova vaga especulativa contra o euro começa a ganhar força nas capitais europeias.

À margem da cimeira do G20 em Seul, os Cinco emitiram ontem de manhã uma declaração formal destinada a afastar qualquer cenário de reestruturação da dívida irlandesa. Este é o grande receio dos mercados financeiros, devido às discussões que decorrem na UE sobre os contornos do futuro mecanismo de gestão de crises do euro que vai substituir o EFSF a partir de 2013.

"Qualquer novo mecanismo só entrará em vigor depois de meados de 2013 sem qualquer tipo de impacto sobre as disposições actuais", afirmam os Cinco, sem citar qualquer país. Ou seja, "independentemente do debate no seio da zona euro sobre o futuro mecanismo permanente de gestão de crises e da participação eventual do sector privado, é claro para nós que não se aplicará à dívida existente e a nenhum programa no quadro dos instrumentos actuais". Ou seja, se o EFSF for activado agora, não envolverá qualquer reestruturação de dívida.

Depois destas declarações, as taxas de juro irlandesas e portuguesas começaram a cair no mercado da dívida pública. No caso da Irlanda, passou de 9,243 para 8,434 por cento. Em Portugal, de 7,357 para 7,005 por cento.

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