Linha da Trofa saiu do plano de investimentos para 2011

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Linha Verde detém-se no Instituto Superior da Maia na direcção norte FERNANDO VELUDO

Obra custaria 140 milhões de euros. Mesmo sem ela, a empresa deve violar os limites de endividamento no próximo ano

A Trofa não vai ter metro tão cedo. A Metro do Porto, que já tinha retirado a obra de extensão da Linha Verde entre o Ismai (Instituto Superior da Maia) e a Trofa do plano de actividades de 2010, volta a deixá-la de fora das suas intenções de investimento para 2011. A razão, já adiantada pelo PÚBLICO em Julho, é a limitação ao crescimento do endividamento que o Plano de Estabilidade e Crescimento impôs a todas as empresas do sector empresarial do Estado. O concurso, lançado há precisamente um ano, fica, assim, pelo caminho, e a empresa evita o dispêndio de 140 milhões de euros para os quais teria de recorrer, mais uma vez, à banca.

A situação financeira da Metro é, como vem sendo noticiada, preocupante. E para além dos seus encargos actuais com o serviço de dívida, não suportados pelas receitas que gera, em 2011 vai ter outro problema. Com a conclusão das duas obras em curso - a extensão entre o Estádio do Dragão e Fânzeres, Gondomar (97,5 milhões de euros), e o prolongamento da Linha Amarela até Santo Ovídeo, em Gaia (31 milhões) - a empresa vai começar a receber as respectivas facturas, o que a impedirá, no próximo ano, de cumprir a imposição do PEC, de não aumentar em mais de seis por cento o seu endividamento.

Sem qualquer dotação a fundo perdido para a extensão à Trofa, a assunção desta despesa pesaria demasiado nas contas da Metro. A obra, acordada entre o primeiro Governo de Sócrates e a Junta Metropolitana do Porto liderada por Rui Rio, era um compromisso da primeira fase, que não chegou a ser concretizado. O Estado, accionista principal da Metro, prometeu entretanto retomá-lo, em regime de empreitada e ainda antes do resto das linhas que fazem parte da segunda fase. E até aumentou o volume de investimento para os 140 milhões ao aceitar, apesar das expectativas de procura o não justificarem, a duplicação de linha num antigo canal em via simples que há anos deixara de ter comboio. Sem nunca garantir qualquer fonte de financiamento.

A construção da Linha da Trofa foi uma promessa da ex-secretária de Estado dos Transportes. Candidata também a deputada pelo Porto, Ana Paula Vitorino, na pré-campanha para as últimas legislativas, participou numa sessão de lançamento do respectivo concurso, que, no entanto, só veio a ser publicado no final de Outubro de 2009, mais de três meses depois. A concretização desta obra foi também uma grande aposta eleitoral da actual presidente da Câmara da Trofa, a socialista Joana Lima, que nesse mesmo mês de Outubro destronou o social-democrata Bernardino Vasconcelos.

Antes das férias de Verão, o serviço alternativo garantido pela Metro entre a Trofa e a Maia tinha 400 utilizadores. Estes não terão metro nos próximos anos, até porque a obra, sabe o PÚBLICO, não está - a empresa nunca para tal foi mandatada - incluída no concurso global que inclui as linhas da segunda fase, a serem pagas pelo consórcio que as venha a construir em troca de uma renda anual entregue pela Metro. Esta continua a assumir o objectivo de ter o dossier deste concurso pronto até ao final do ano, desconhecendo-se o que fará a seguir o Governo com o documento. Embora não seja especular demasiado admitir que, face à crise económica e financeira que o país atravessa e à pressão colocada sobre o sector empresarial do Estado, o mais certo é que esse concurso não veja, tão cedo, a luz do dia.

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