Os riscos e a virtude do WikiLeaks

O WikiLeaks pode ameaçar a segurança dos EUA, mas tem o mérito de denunciar a mentira e a impunidade

Ao narrarem "a banalidade da violência na guerra iraquiana", como explica nesta edição Jorge Almeida Fernandes, as revelações de segredos da intervenção militar norte-americana no Iraque pelo WikiLeaks recuperam uma discussão interminável e insusceptível de consensos: o que importa mais numa democracia, tolerar a qualquer custo segredos de Estado que interferem na segurança nacional, ou reclamar a primazia de valores fundamentais como a liberdade de informação e o respeito pelo Estado de Direito? Em 1917, um ex-governador da Califórnia, Hiram Johnson, cunhou uma frase que se tornaria o símbolo deste dilema ao dizer que "a primeira vítima da guerra é a verdade". Em qualquer conflito internacional dos últimos 150 anos este preceito foi cumprido exemplarmente, e quando assim não foi as consequências foram devastadoras junto da opinião pública, como aconteceu com o conflito do Vietname. Mas, ainda que a verdade tenha custos por vezes devastadores para as estratégias militares ou para o poder político que as sustenta, a ocultação e a mentira são ainda mais graves. Porque ao silenciarem casos de abusos ou de morte indiscriminada de inocentes, como os documentos agora revelados pelo WikiLeaks parecem confirmar, destroem os fundamentos morais e civilizacionais sobre os quais se sustenta a convicção da superioridade da democracia. Agora que a Internet torna mais difícil manter segredos outrora impressos em papéis bem guardados, o risco de haver quem os divulgue em massa é um assunto de extrema gravidade para os Governos e as administrações militares. Mas muito pior que esse risco é aceitar que crimes graves, cometidos ou tolerados pelo Exército de uma democracia, sejam ocultados sem que ninguém se tivesse preocupado em os julgar e, eventualmente, punir.

O OE a seguir de acordo com os planos

Ninguém esperaria que uma base de entendimento entre o Governo e o PSD sobre o orçamento ficasse estabelecida no final da primeira reunião entre as partes. Ainda que remotamente, podia-se sim recear que as propostas em cima da mesa fossem tão distintas entre si que excluíssem à partida qualquer hipótese de entendimento. O que se pôde constatar pelas curtas e lacónicas declarações do delegado especial do PSD e do ministro das Finanças é que houve a preocupação de manter um clima de entente cordiale capaz de permitir o agendamento de uma nova ronda de negociações para a tarde de hoje. Mas, além deste esforço que traduz empenho e boa-fé, a forma incisiva como Fernando Catroga se referiu à incerteza quanto aos resultados finais da negociação deixa transparecer a distância que há entre a proposta do OE do Governo e os pressupostos negociais apresentados pelo PSD. Um pormenor. Condenados a entenderem-se sem perderem a face, Catroga e Teixeira dos Santos são hoje dois penitentes da insustentável situação financeira. Ambos sabem que terão de sofrer contratempos, relativizar princípios e ceder posições para cumprir os actos de um drama cujo final já está traçado.

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