De avô para neta, há segunda vida para a estação de Sul e Sueste

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Em cima, Ana Costa; em baixo, cartaz de época da estação marítima, com Cottinellli Telmo à direita fotos: daniel rocha

Edifício de Cottineli Telmo feito para quem atravessava o Tejo será reinaugurado em Julho de 2012, segundo o projecto do arquitecto

O que existe em comum entre a estação fluvial de Sul e Sueste, mais conhecida como a do Terreiro do Paço, e o Padrão dos Descobrimentos, em Belém? Ou entre o Museu de Arte Popular e a Praça do Império com a notável e monumental fonte luminosa, que lhe ficam próximos? São todas obras de Cottinelli Telmo (1897-1948), arquitecto que também foi realizador de cinema, depois de ter projectado os estúdios cinematográficos da Tóbis, no Lumiar. Cabe agora à sua neta, Ana Costa, também filha do arquitecto e designer Daciano da Costa, reabilitar a estação, um conjunto de edifícios inaugurados em 1932 para servir as ligações Lisboa-Barreiro.

"Todo o corpo de obra é a antiga estação, que está a ser reconstruída na íntegra. Só estamos a acrescentar um volume de frente de rio, longitudinal, que servirá as unidades de passagem e de embarque. É uma intervenção muito pacífica. O gesto arquitectónico é da época, à excepção de uma nova construção, para oriente, para uso dos serviços técnicos da Transtejo", diz Ana Costa.

Para a sua frente, a Câmara de Lisboa já tem preparado um esquema de paragem e circulação de transportes públicos e particulares. A obra, de 26,69 milhões de euros (suportada pelo fundo de coesão comunitário), deverá ter o interface com o Metro operacional em Abril de 2011, embora, segundo informação da Transtejo, a totalidade do projecto só esteja concluído em Julho de 2012.

A nova entrada do metropolitano surge mesmo no meio do antigo edifício das bagagens, que foi todo desmontado e numerado para posterior reposição. "Todos os elementos que davam escala aos edifícios, os gradeamentos interiores, as lanternas típicas dos anos, tudo, segundo os desenhos originais do meu avô, serão repostos", garante a arquitecta, que diz sentir-se gratificada com o trabalho: [O projecto] veio parar-me às mãos sem que se soubesse que sou neta de Cottinelli Telmo. Agarrei nele e disse que iria ser reposto na íntegra. Diz-se que o que é bom é pombalino; a arquitectura do séc. XX tem coisas extraordinárias, mas tem sido descurada."

A gare manterá os serviços antigos, uma zona de comércio, a zona de comando da estação, uma pequena sala VIP. Na outra zona será o grande átrio, de função, de acesso ao metro. "Agilizámos e aligeirámos a arquitectura, com um revestimento em azulejo branco, ondulado [fábrica Viúva Lamego], valorizámos a construção antiga, pois estamos perante uma praça monumental, que já tem a grande arquitectura. Ora, este edifício é relativamente modesto na sua escala. Era importante não fazer um exercício gritante, estilo Bilbau, mas para que se veja como o edifício e o Terreiro do Paço são extraordinários. Para tal não é necessário ser ostensivo."

Desde 2001 que Ana Costa tem em mãos o projecto de reabilitação da gare. São 40.000 passageiros por dia a desembocar ali, numa obra do Metropolitano de Lisboa, que no seu interior permite acesso à Linha Azul do metro, criando um importante interface de transportes públicos que servirá os utentes das travessias do Tejo (Montijo, Seixal e Barreiro).

Em tempos, aquela travessia já foi considerada a mais importante, em termos europeus, pelo fluxo de passageiros movimentados entre duas margens de rio.

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