As estrelas do futebol que nunca chegaram a ser um Figo, um Simão ou um Ronaldo

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Eduardo Simões: do Benfica para o Real Massamá pedro martinho

O PÚBLICO encontrou Eduardo Simões e Carlos Marques, futebolistas que há dez anos viveram um sonho comum. Um no Benfica, o outro no Sporting. A vida alterou-lhes os planos.

A paixão deles era jogar futebol. Quando começaram, de chuteiras calçadas, tinham oito anos de idade. Um jogou pelo Benfica, outro pelo Sporting. O primeiro joga no Real Massamá (Sintra) e o segundo no APOP (Chipre). Foram capitães das suas equipas, em juniores, na época 2000/2001. Há 10 anos, Eduardo Simões e Carlos Marques viveram o mesmo sonho - jogar ao mais alto nível num dos chamados "grandes" de Lisboa. O PÚBLICO foi conhecer o percurso e a vida actual destas ex-promessas do futebol português.

"O meu pai queria que eu e o meu irmão fôssemos para a natação, mas nós só queríamos jogar à bola. E um dia ele levou-me para as "escolinhas" do Benfica", explica ao PÚBLICO Eduardo Simões, que representou o clube encarnado durante 14 anos. Vitórias? Centenas. Derrotas? A mesma coisa. Mas há triunfos que não se esquecem. Numa altura em que Fernando Chalana, ex-futebolista das décadas de 1970 e 1980, treinava a equipa de juniores, Eduardo teve a primeira grande alegria enquanto jogador: foi campeão nacional. Estávamos em 1999 e o central, que não era tão duro como a maioria e que ainda hoje se considera, por isso, um "defesa atípico", era visto como uma promessa.

Agora, passados 11 anos sobre a conquista do título, o jovem, que foi internacional em vários escalões de formação, joga no Real Massamá. O clube, actualmente na III Divisão, não é o dos sonhos do menino Eduardo. Mas não há muito a fazer, "a vida é assim", comenta o atleta. A vida é assim como? A vida de Eduardo Simões vive-se entre o emprego que tem no aeroporto de Lisboa, os treinos e os jogos do Real Massamá e um curso de Gestão, em que se inscreveu recentemente na Universidade Autónoma de Lisboa. Mais a filha, uma menina de sete anos que, naturalmente, também lhe ocupa os dias.

Estar no lugar certo

Figo, Simão, Nani e Cristiano Ronaldo são nomes conhecidos em todo o Mundo. Têm vidas consideradas fantásticas: casas grandes, carros de alta cilindrada, férias de luxo. Mas, apesar de quererem e de crerem, nem todos os jovens futebolistas portugueses conseguem chegar a este patamar de sucesso. "Fala-se sempre do trabalho, mas mesmo com muito trabalho é preciso sorte. Estar no lugar certo à hora certa", considera Eduardo. Carlos Marques, que começou a sua carreira no Sporting com oito anos, concorda com ele. "É claro que sem qualidade nenhum jogador pode vingar no futebol, mas são necessários outros factores, tais como a sorte e também ter um treinador com coragem para apostar num jogador jovem", diz o defesa, que representa o APOP, clube da principal liga de Chipre.

Em 2000, Eduardo Simões estava no lugar certo. Foi chamado à equipa principal do Benfica no ano em que José Mourinho se estreava como treinador. Mas nunca chegou a ser utilizado pelo actual técnico do Real Madrid. Nos anos que se seguiram, o jogador treinava na equipa B, mas era chamado com regularidade à equipa principal. Nessa altura conviveu com as "estrelas" e foi treinado pelo Toni, pelo Jesualdo Ferreira e pelo Chalana. O sonho e a ambição cresceram. Mas as coisas não foram pelo caminho que Eduardo queria trilhar. Aqui, como em outras áreas, as oportunidades são raras e irrepetíveis. Talvez seja culpa do destino. "Tenho pena, mas não estava destinado", refere.

A qualidade e o talento do defesa- central foram, ao longo do tempo, reconhecidos no clube da capital. Em 2003, José António Camacho convocou-o para o último jogo do Campeonato, ante o Vitória de Guimarães. Na pré-época seguinte, viajou para a Suíça com a equipa liderada por Giovanni Trapattoni. Mas não conseguiu um lugar. No final dessa temporada, o sonho Benfica caía por terra. "Falaram-me de renovações, mas no fim do ano disseram-me que não tinham orçamento", refere, em tom triste, o atleta. E acrescenta: "A questão foi o facto de prometerem e não cumprirem."

O percurso do ex-capitão do Sporting foi semelhante ao de Eduardo Simões. Também foi campeão nacional, mas pelos juvenis. E, depois de três anos na equipa B, fez a pré-época com a equipa principal, na altura (2004/05) treinada por José Peseiro. Nessa temporada, na que chegou ao "céu", Carlos deixou o clube de Alvalade. Depois de ter passado por várias equipas de escalões inferiores (Ovarense, União da Madeira e Olivais e Moscavide) e de ter tido uma experiência "menos boa" no futebol grego (Ethnikos Piraeus), o defesa rumou a Chipre, onde joga desde 2006. No APOP, sente-se bem. "Em Chipre, senti que me deram o devido valor e confiança que nunca tive oportunidade de demonstrar em Portugal", afirma o defesa.

Eduardo Simões e Carlos Marques continuam unidos pela mesma paixão. Mas um joga na primeira liga de Chipre e outro na terceira divisão de Portugal. Talvez seja por isso que querem seguir percursos diferentes quando deixarem de calçar as chuteiras. "Ainda não pensei seriamente no que vou fazer a seguir, mas gostava de ficar ligado ao futebol", refere Carlos. Eduardo pretende fazer o oposto: "Quando terminar a carreira de jogador, quero-me desligar do mundo do futebol", confessa. No Real Massamá, a ex-promessa continua dedicada. Recebe, como outrora, elogios - "Oiço todos os anos: "Não devias estar nesta Divisão"."

Mas o sonho de Eduardo Simões esmoreceu, a vontade já não é a mesma de quando ambicionava chegar ao topo do futebol nacional - ou permanecer lá - até porque, na divisão em que continua a jogar, "o futebol tem outro nível: baixo".

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