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Nem Alqueva faz aumentar alunos na Escola Superior Agrária de Beja

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Nos cursos de Agronomia entraram apenas quatro alunos ADRIANO MIRANDA

Nova geração de alunos troca as Ciências Agrárias pelo Turismo, Serviço Social, Artes Plásticas e Multimédia e Gestão de Empresas

Das 140 vagas que a Escola Superior Agrária (ESAB) tem para oferecer aos novos alunos no arranque de mais um ano lectivo, apenas foram preenchidas 16, para os seis cursos que lecciona (Agronomia, Agronomia em regime pós-laboral, Biologia, Engenharia Alimentar e Engenharia Ambiental).

Os dados publicados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior confirmam que no curso de Agronomia (30 vagas) foram preenchidas quatro, Agronomia em regime pós laboral (20 vagas) ficou vazio, o curso de Engenharia Alimentar (35 vagas) só foi opção para quatro alunos, Engenharia do Ambiente (30 vagas) ficou com cinco e a Biologia (25 vagas) apenas se candidataram três alunos.

Estes números vêm confirmar a falta de interesse dos jovens pelas ciências agrárias e numa região que tem como principal motor da sua economia a agricultura. Nem o efeito Alqueva conseguiu travar a substancial redução de alunos. Este declínio nem sequer é repentino. Acentuou-se com a emergência do projecto daquela barragem alentejana.

E de tal forma tem sido o declínio da ESAB que o ministro da Agricultura, António Serrano, teceu, em Fevereiro passado, considerações bastante críticas às instituições de ensino da região, admitindo que estas "não estão preparadas para ajudar a desenvolver as potencialidades oferecidas pelo regadio do Alqueva".

O presidente do Instituto Politécnico de Beja, Vito Carioca, disse na altura que "as afirmações do ministro não são as mais contextualizadas, imputando ao Governo a falta de uma estratégia, de um projecto determinado e consistente". Quanto ao Alqueva, deixou claro que as áreas da investigação e da formação necessitam de uma estrutura e um investimento que "o poder central não fez", concluiu Vito Carioca.

O ano lectivo 2010/2011 não trouxe nada de novo. Apenas se confirmou que os jovens não têm no regadio de Alqueva (quando estão concluídos e prontos a cultivar 65 mil hectares de terras) uma referência do ponto de vista profissional ou científico.

Com efeito, na licenciatura em Agronomia, nas suas variantes diurna e pós-laboral e que faculta conhecimentos em culturas regadas, olivicultura e vitivinicultura, cuidados veterinários, recursos cinegéticos (caça) e aquícolas, apenas estão ocupadas quatro das 50 vagas que oferece,.

Nos outros cursos oferecidos pelo Instituto Politécnico de Beja (IPB) as opções dos alunos vão para Solicitadoria e Gestão de Empresas, que das 30 vagas ficaram ocupadas 22. Os cursos de Turismo, Serviço Social, Artes Plásticas e Multimédia, Desporto e Educação Básica ficaram totalmente preenchidos.

Um dos poucos alunos oriundos da ESAB que o PÚBLICO descobriu a sujar as botas no barro, a tratar do olival numa herdade propriedade de empresários espanhóis, refere que, do seu curso, "apenas três escolheram o campo para trabalhar". Os outros seus colegas optaram por trabalhar nas instituições bancárias.

Mesmo assim, o IPB disse ontem, através de comunicado, que está "optimista" em relação ao número de alunos inscritos face ao ano anterior - "registou um aumento significativo de 9 por cento". De 383 alunos colocados no ano lectivo passado, o IPB "passou, este ano, para os 416".

No entanto, esta instituição de ensino reconhece que, "em alguns cursos em específico, o número de colocados não foi o esperado, estando já a analisar caso a caso cada situação e a preparar medidas adequadas".

O IPB acredita que as vagas deixadas em aberto venham a ser ocupadas pelos alunos trazidos pelos concursos especiais de acesso ao ensino superior para maiores de 23, os que vão reingressar ou proceder à mudança de curso, e ainda os que são transferidos.

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