"A adaptação nunca chega a ser completa"

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Médio chegou esta época a Setúbal

Continuidade é uma palavra difícil de utilizar quando se olha para a carreira de Hugo Leal. Ele é o outro lado da moeda, o reverso das experiências permanentes. É um daqueles jogadores que, além das qualidades futebolísticas, também ficam conhecidos como verdadeiros globetrotters.

O jovem "nascido" no Benfica e que se estreou na equipa principal da Luz na temporada de 1996/97 conheceu, ao longo da sua carreira, 11 emblemas em apenas 15 temporadas. Quase nunca permaneceu mais de duas épocas no mesmo clube - a excepção é o PSG (Paris Saint-Germain), onde esteve três anos. Passou por Portugal, Espanha e França. Mas, apesar de ser uma grande promessa, com duas transferências milionárias para o Atlético de Madrid, aos 19 anos, e depois para o PSG, nunca atingiu a projecção que se esperava. E, aos 30 anos, está agora em Setúbal.

"Sei que a minha carreira poderia ter sido bem diferente, mas nunca gostei de me sentir acomodado e apreciei sempre novos desafios", reconhece o futebolista que, antes de chegar ao Bonfim, representou o Trofense e o Salamanca. Hugo Leal refere mesmo como exemplo de como tudo poderia ter sido diferente o que se passou em 2004/05, quando se encontrou com Raul Meireles no FC Porto. Na altura, nenhum dos dois jogava regularmente. "O Raul teve a paciência de esperar, enquanto eu, ao fim de seis meses, já estava a pedir para sair para a Académica, onde poderia jogar. Mas hoje o Meireles é uma referência no futebol mundial. Sei que a minha maneira de ser me levou a tomar decisões prejudiciais em termos de carreira. Mas não me arrependo", confessa.

Garante que o caminho que escolheu teve aspectos negativos, mas também um lado positivo, que lhe rendeu dinheiro e felicidade. "O pior é que nunca nos sentimos em casa, a adaptação ao clube nunca chega a ser completa. Quando estamos várias temporadas no mesmo clube, conseguimos tranquilidade e acredito que isso melhora o rendimento desportivo. Mas sempre gostei de desafios e de me sentir útil", esclarece.

E também existe, segundo este médio, algo de bom no seu percurso. "Há sempre mais motivação para mostrar a quem nos contrata que temos valor e a possibilidade de nos sentirmos úteis. Sou uma pessoa que gosta de novos projectos e esta foi uma forma de os encontrar constantemente", conta, assegurando que, a partir de determinada altura, passou a decidir mais em função de aspectos pessoais do que de carreira.

Hugo Leal, porém, reconhece que é importante que os clubes tenham referências. Jogadores que, no seu entender, podem fazer a diferença entre o sucesso e o insucesso. Manuel Mendes

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